Para quem cresce em cidades como Rio e São Paulo, a partir
do momento que se tem carro, passa a ser bem difícil imaginar sua vida sem ele.
Bom, até falamos no último post: as grandes distâncias, o transporte público
ineficiente e até a falta de segurança, tudo acaba levando as pessoas a se
refugiarem dentro dos seus carros. Não é à toa que o automóvel é o principal
símbolo de status que costumamos ostentar, seja quando fazemos 18 anos, seja quando
conseguimos ganhar melhor; o carro é o sonho de consumo da maioria.
Há um ano ficamos sem carro e pensamos em segurar a onda
para comprar outro. Não imaginávamos que ficaríamos tanto tempo assim. E de
boa.
Já quando chegamos aqui, vimos uma grande diferença, pois
passamos todo o tempo antes com apenas um carro para o casal. Pra quem vem de
São Paulo é impensável algum casal de classe média pra cima ter menos de 2 carros,
isso quando não tem o terceiro, para o rodízio.
Para o padrão europeu, ter carro na Holanda é caro. Ao
menos, mais caro que a média europeia. Não falo só do preço do carro, mas no
geral. Agora, comparado com o Brasil, não; vejamos:
- Carro: o carro em si, é mais barato. A partir de 6 ou 7 mil euros já dá pra comprar
um carrinho popular, como um Peugeot 107 ou um Toyota Aygo. Um Civic pode ser
comprado por € 17.000 e uma BMW 318 começa a partir de € 33.000. Fora que o
sistema de leasing permite financiar por taxas bem mais camaradas, em até 36
meses.
- Gasolina: aqui é bem mais cara. Nos países vizinhos
costuma-se pagar € 1,50 o litro, mas na Holanda sai € 1,70 (R$ 5,10). Tá certo
que uma gasolina bem melhor, que rende mais, sem adição de álcool e sem um
monte de impureza que vai ferrar seu motor um dia, mas bem mais cara.
- Estacionamento: aqui costuma ser caro apenas nos centros
das cidades, chegando ao máximo de € 5,00/hora no minúsculo centro histórico de
Amsterdam. Em outros lugares, bem mais barato ou de graça. Fora que parar na
rua não representa risco algum.
- Impostos: aqui reclamam muito que o imposto holandês é
alto. E é, paga-se até 5 vezes mais que na Espanha pra se ter um carro. Tanto
que muita gente que se muda pra cá, acaba nunca transferindo sua placa. No
chute, porém, é mais ou menos o que se paga de IPVA no estado de SP, só que com
duas diferenças: não se acha um buraco no asfalto, ruas e estradas são uns
tapetes; e não existe pedágio. Logo, imposto bem investido. Na Bélgica cobra-se
menos imposto, mas o asfalto é tão pior que sabemos onde é a fronteira dos
países sem olhar placas, apenas pelo calçamento das estradas.
Agora, é caro por um motivo: o uso de carro é profundamente
desestimulado pelo Estado, especialmente no centro das cidades. Um exemplo: nas maiores cidades (isso não só
na Holanda) tem o chamado Park And Ride, identificado pelo símbolo P+R. São
estacionamentos fora da cidade onde paga-se um valor baixo, você ganhar
tíquetes de metrô ou trem para uma ida e uma volta para o centro; pra todos os
ocupantes do carro. Por exemplo, em Amsterdam pode-se parar no estádio do Ajax
por € 8,00 por dia e ir pro centro de graça.
Voltando, então como sobreviver sem carro? Simples.
Como já falamos no post anterior, a bike é sua melhor amiga.
Em um raio de 3 ou 4km, onde dá pra fazer muita coisa, ela é até mais rápida
que o carro. É flexível, vai a qualquer canto, para em qualquer lugar e há
ciclovias em toda parte. Fora o ganho de saúde, pois já faz exercício indo pro
trabalho.
Segundo, é claro, transporte público. Pode não ter ônibus a
toda hora pra todo lugar, mas é bem confiável e costuma-se enfrentar lotações
só nos horários de rush (especialmente pela manhã) e mais no inverno, onde as
bikes ficam em casa.
Os trens também são ótima opção para as principais cidades.
Embora a NS (empresa estatal de trens) venha pisando na bola muito mais que
devesse – o que tem levado a tomar várias multas – ainda assim, dá pra contar
como um meio de transporte razoavelmente confiável.
O Car Sharing tem sido um dos nossos melhores amigos. Para
aquelas horas onde precisamos carregar compras, ira um lugar mais remoto ou
precisamos de flexibilidade, contamos com o famoso Green Wheels.
O sistema é
simples: cadastra-se e, por uma taxa de € 10/mês, temos uma frota a nossa
disposição pelo país.
Pela internet ou pelo smartphone, nós reservamos um carro
mais próximo por um horário fixo. Passamos o cartão (no caso, o mesmo cartão do
“Bilhete Único”) no para brisas, ele abre, digitamos um código e pegamos a chave.Não precisa pagar estacionamento e há vagas dedicadas para o
carro. Para a gasolina, há um cartão tipo Vale Combustível que pode ser usado
em qualquer posto e a conta vai para a Green Wheels. Claro que pagamos por ela
no valor do aluguel e da quilometragem. Pra dar uma ideia, se pegarmos um carro
por 3h e rodarmos uns 30km, pagamos cerca de € 15, gasolina incluída.
O ruim do sistema do Green Wheels é ter que devolver o carro
aonde você pegou. Há outros sistemas, como o Car2Go onde se pode devolver em outros
lugares, coisa que dá mais flexibilidade e diminui os períodos de locação. Mas,
o Car2Go, na Holanda, só tem em Amsterdam.
Para viajar, passar 2 ou 3 dias fora, aí a melhor opção é o
aluguel normal de carro. Com a vantagem que aqui é muito mais barato. Pra dar uma ideai, pra pegar um carro no
sábado e devolver na terça (3 dias) dá pra pagar a partir de € 73, por um
Twingo ou € 93 por um Megane. É menos que os € 120 mensais que pagávamos de
estacionamento no centro de Eindhoven, quando tínhamos carro. Menos do que os
R$ 200 que pagamos por um dia de um Renault Sandero no Rio de Janeiro, na nossa
última viagem ao Brasil.
Isso tudo sem precisar usar táxi, que aqui é caríssimo. Em
um ano, só peguei táxi uma vez e isso porque era uma emergência; se tivesse
tempo, dava pra ter ido de bumba.
Sim, você tem que se adaptar, os aplicativos de transporte
público para smartphones (9292ov para ônibus e NS para trens) são essenciais e
você também aprende a se planejar melhor.
Sim, voltaremos a ter outro carro, afinal, a flexibilidade e
o conforto ainda contam. Mas, o fato é que há vida sem automóvel. E uma vida
boa. Agora, a não ser que surjam circunstâncias muito específicas, duvido que
tenhamos 2 carros.
Por fim, importantíssimo: ninguém aqui te julga pelo carro
ou pela falta dele. Muita gente rica não tem carro, muita gente que poderia ter
um BMW escolhe ter um Fiat 500 porque é mais prático. Símbolos de status pra
holandês são outros, certamente não o carro.
Às vezes irrita um pouco a forma simplista como as pessoas
encaram problemas complexos. Nos últimos meses, vemos rodando no Brasil um
monte de iniciativas e campanhas nas mais diversas áreas do nosso dia a dia,
buscando alterar algo na nossa sociedade.
Desde sacolinhas de mercado até discussão sobre maioridade
penal, passando pelo incentivo ao uso de bicicletas, as discussões acabam se
reduzindo a “vamos fazer isso, pois isso é feito na Europa (ou EUA) e dá
certo”. OK, a premissa de copiar bons exemplos é bastante válida, mas desde que
se estude e entenda o ambiente todo, não apenas forçando uma mudança única que
acabará por ser pouco efetiva. Se é pra copiar, faça bem feito.
A ideia deste post é dar uma panorâmica sobre uma sociedade
que vive sobre duas rodas e ver o que podemos adotar como boas práticas e o que
não é tão viável, dadas as diferenças de realidade. A Holanda é exemplo mesmo
de país que priorizou a bicicleta (ou fiets, como eles chamam aqui) como meio de transporte, mas a coisa é bem
mais complexa do que fechar uma faixa de rolamento de trânsito com cones e
falar “vá de bike!”.
Aliás, veremos o quanto esta solução propagandeada por
muitas prefeituras – notadamente a de São Paulo – não apenas é simplista, mas é
porca. Mas, primeiro, um pouco sobre os holandeses e as bikes.
HISTÓRICO
O holandês não nasceu sobre duas rodas e, por mais que a
geografia do país facilite brutalmente esse meio de transporte, as coisas nem
sempre foram assim. Esse vídeo, divulgado no YouTube uns meses atrás, mostra
que o fato do holandês viver em duas rodas não é resultado de uma geração
espontânea, mas de uma política de estado séria, ampla e de longo prazo que
começou no início dos anos 70. Está em inglês, mas é só clicar no botão de legendas, que tem versão em português:
CICLOVIAS
Essa é a parte principal, é o que determina se ciclistas
irão às ruas ou ficarão em seus carros; no fim a diferença entre se pedalar com
segurança ou não. Na Holanda, dá pra separar a relação carro-bicicleta em 4
grupos:
- Estradas: nas estradas acima de 80 km/h de limite de
velocidade, nem sempre há uma ciclovia, mas quando há, ela é tão separada da
estrada que muitas vezes nem dá pra ver. Ela segue mais por dentro das cidades,
de forma que você pode chegar de A a B da mesma forma, mas longe dos carros.
Não existe essa de pedalar no acostamento.
- Avenidas: chamaremos aqui de avenida aquelas que possuem 2
ou mais faixas de rolamento e velocidade máxima de 70 km/h. Nesse caso, a
ciclovia sempre é separada da avenida. A ciclovia pega um pedaço do que seria a
calçada, nesse caso, quase sempre com piso específico e divisão física
(desnível) pra calçada. Algumas vezes, a ciclovia é na “pista local” destas
avenidas, onde carros entram para estacionar ou, talvez, virar à direita;
nesses casos, a prioridade é total do ciclista.
Calçada, Ciclovia e Avenida. Simples.
- Ruas maiores: são as de limite de 50 km/h. Diria que
nessas ruas, uns 80% das ciclovias também são separadas da faixa de rolamento,
na calçada. Por falta de espaço, nem sempre a divisão com os pedestres é
física, podendo ser apenas um caminho pintado no chão. Nos 20% onde a ciclovia
é um pedaço da rua, ela sempre é pintada em cor bem diferente e há espaço
suficiente para carro e ciclista passarem sem se bater, indo e vindo.
Lá longe tem uma avenida de 50km/h
Ou então, assim, mas com espaço pra todos
- Ruas pequenas: nas ruas de bairro, aquelas só com trânsito
local, o limite de velocidade é de 30 km/h. Na maior parte, há um pedaço de
ciclovia pintado no canto da faixa, mas pelo tamanho da rua, nem sempre cabe
carro indo e voltando com ciclistas dos dois lados. Em outros casos, não há
nada pintado e o ciclista pode usar a rua normalmente. Em todos os casos, a
prioridade é totalmente do ciclista. Já presenciei diversas vezes até ônibus
esperando pacientemente a velhinha de bicicleta conseguir encostar pra ele
passar.
Simples.
Vias de 30km/h estão sinalizadas. Sempre há placas lembrando: Zone 30!
O que se faz em grandes cidades colocando apenas
cones como proteção numa faixa de rolamento em uma avenida com limite de 80
km/h é o que chamei lá em cima de solução porca: é ruim para os carros, pois
diminui tremendamente o seu espaço, aumentando o já caótico trânsito. E é ruim
para os ciclistas, pois cone não protege a vida de ninguém. Acho um absurdo ver
uma Avenida Paulista com uma solução dessas, sendo que sua calçada é larguíssima,
podendo acomodar tranquilamente uma ciclovia.
Ciclovia de cones é coisa pra final de semana, pra ciclismo
de lazer. Não pra servir como meio de transporte sério.
Só que é mais fácil, mais barato e mais rápido os prefeitos
comprarem uns pouco milhares de cones e falar: “olha, temos ciclovias!”. Não,
não temos ciclovias, temos soluções mambembes.
O nível que o pessoal chegou. Num entroncamento de grandes avenidas, temos essa rotatória suspensa de ciclovia.
A Holanda é o país mais seguro para se andar de bicicleta no
mundo, mesmo sendo o país onde mais se pedala. Pra ter uma idéia, um holandês
pedala, em média, 3 km por dia. Veja bem, estamos falando em médias diárias e
da população toda. Mesmo assim, o índice é de 2 mortes a cada 100 milhões de km
pedalados. Comparando, na Grã Bretanha, o índice é de 8 mortes. Isso porque
ninguém usa capacete, exceto alguns ciclistas de corrida e algumas crianças.
Sério, nunca vi um adulto numa bike comum usando capacete.
EDUCAÇÃO
Primeiro, falamos dos motoristas. A coisa é simples: cerca
de 90% da população adulta da Holanda usa bicicleta ao menos uma vez por semana
(tirando o inverno), de forma que virtualmente todo mundo é ciclista. Logo, o
motorista entende o que é estar em duas rodas. Além disso, há a lei. Não sei
exatamente quais são as penas, mas já nos falaram algumas vezes que se puder
escolher, atropele um carrinho de bebê, um cadeirante ou uma freira idosa, mas
nunca um ciclista! Mesmo que ele não tenha razão, a dor de cabeça será enorme.
No fim, é fácil nos acostumarmos a olhar pra trás antes de virar, mesmo que pra
direita.
Mas, aqui tem outro ponto: o ciclista! Sim, o ciclista
holandês é mal educado, não respeita pedestre (nem nas faixas de pedestre sobre
a ciclovia), não respeita sinalização e acha que pode pedalar em qualquer
lugar, caso não esteja contente com os 19.000km de ciclovias do país. Tudo em
nome da inércia. Agora, tem coisas que o ciclista holandês não faz: ele não
anda na contra mão em ruas (só nas ciclovias), ele não anda entre os carros e
ele não sai trombando pedestres fora da ciclovia. Dentro das ciclovias, fazem o
diabo; fora delas, são comportados.
Tem semáforo de bike aqui...
Outro detalhe: ciclistas são multados. Muitos adoram andar
em ruas de pedestres no horário comercial, mas se a polícia pega, são € 30,00 a
menos na carteira.
Pra começar a andar sozinha de bicicleta, qualquer criança a
partir de 7 anos de idade faz uma espécie de prova, mostrando que sabe andar de
bicicleta, que entende sinalização e que pode se virar sozinha. Dessa forma,
ela ganha uma espécie de “Carteira de Ciclista”. Educação de base.
CLIMA E GEOGRAFIA
Se tem algo que a Holanda é absolutamente incomparável para o
ciclismo, é a sua geografia. É um país muito pequeno, dá pra ir de uma cidade a
outra de bicicleta sem ser nenhum Bradley Wiggins. As cidades são pequenas;
Amsterdam, por exemplo, não tem 800.000 habitantes e deve dar pra cruza-la de
bike, de um canto a outro em uma hora, se bobear. Em Eindhoven, que é uma
cidade bem espalhada, não leva-se mais de 40 minutos entre seus extremos mais
distantes.
Por fim, o país é absoluta, total e irritantemente plano.
O clima também favorece demais. Primeiro que faz pouco sol,
o que o ciclista que vai arrumadinho pro trabalho, agradece. Na maior parte do
ano, diria que a temperatura gira na casa dos 5oC a 15oC,
ideal pra pedalar sem suar em bica. Se aumentarmos em 10 graus pra cima e pra
baixo esse intervalo (de -5oC a 25oC), pronto: teremos
99% das horas do ano em uma temperatura que dá pra encarar uma ciclovia sem se
matar. Acredite, com uma boa proteção e um pouco de costume dá pra pedalar na
casa do zero grau, ainda mais se forem trechos curtos. Tá, muita gente deixa as
magrelas em casa e pega ônibus nessa época do ano, mas que dá, dá.
Chova, faça sol... ou neve...
Chove pouco, embora o clima seja constantemente nublado,
chuva mesmo não é muito. E, quase sempre, aquela chuva leve, chata, que dá pra
encarar de boa com uma capa.
Mais que suficiente...
Só o que atrapalha é o vento: única razão pra sua bicicleta
ter marchas. Não é à toa que esse é o país dos moinhos, aqui venta que nem
gente grande.
Por que discorrer sobre isso? Essas condições são
fundamentais pra termos a bicicleta como um meio de transporte principal. Muita
gente vai e volta aos seus destinos apenas de bike, sem comutar pra nenhum
outro meio.
Fico lembrando da vida em São Paulo: morávamos a 22 km de
onde eu trabalhava (aqui, em 18 km, estou na Bélgica, mais especificamente na
abadia/cervejaria trapista de Achel), numa rua que era uma ladeira que dava
medo de encarar até a pé. Fora isso, é desagradável chegar pro trabalho após
pedalar sob um sol de mais de 25oC, onde se chega melado. Pra
coroar, ainda a terrível rotina de temporais de fim de tarde. É algo a se
encarar, não dá pra pensar que qualquer um enfrenta.
O deslocamento médio de um holandês a cada vez que pega sua
bicicleta é de 2,3km. Na boa, dado o tamanho de São Paulo, nem pra casa dos
meus pais ou dos pais da Carol (e olha que pros padrões paulistanos, eles
moravam muito perto de nós – em direções opostas, porém) nós chegaríamos em
menos de 2,3 km de casa. O deslocamento médio seria muito maior.
Daí a necessidade de se pensar na bike, em grandes cidades,
como um meio de transporte complementar, muito mais que como o principal.
ESTACIONAMENTO
O número de magrelas na Holanda é absurdo: são cerca de 20
milhões de fietsen para uma população de
16,5 milhões de pessoas. Muita gente tem 2 ou 3 bikes.
Fietsstalling no nosso prédio
Pega o caso do chefe da Carol por exemplo: o sujeito mora
numa cidade a 50 minutos de trem de Eindhoven. Mesmo tendo direito a carro da
empresa, dado seu alto cargo, ele tem uma bike em sua cidade, que ele pega e
vai pra estação de trem. Lá, tem onde guardar a bichinha, seja num lugar aberto
e grátis ou num abrigado e pago. Pega seu trem e desce na estação de Eindhoven,
onde tem outra bike, num estacionamento próprio, esperando para os 10 minutos
finais de trajeto. Além das duas, ele tem um terceira, de corrida, que usa pra
dar suas voltas de final de semana. Como ele, muita gente se locomove assim no
país.
Pra isso, as estações de trem possuem estacionamentos
gigantes. Em Amsterdam tem até prédio garagem de bike. Nos canais da cidade, há
barcos-garagem. E estão sempre lotados. Prédios de apartamentos ou de
escritórios, todos possuem seus estacionamentos próprios.
Estacionamentos organizados...
A maioria dos pontos de ônibus possuem lugares pra prender a
bike, para as pessoas que moram mais afastadas das linhas de ônibus. Todas as
lojas possuem alguns lugares pra prender bicicletas de funcionários e clientes.
Não vou dizer que seja suficiente, afinal sempre acontece de aqui ou ali ter
que amarrar num poste ou numa grade, mas principalmente na conexão com outros
meios de transporte há MUITO lugar pra deixar sua bike.
... ou bagunçados!
Infraestrutura para ciclismo não é só ciclovia.
PEQUENOS GRANDES DETALHES
Já que falamos em infraestrutura, vamos pontuar algumas
coisinhas que podem passar batido numa política de ciclismo, mas que acabam
sendo empecilhos no dia a dia.
Muitas empresas aqui disponibilizam chuveiros para seus
empregados, caso queiram tomar um banho, após a pedalação. Tá, banho não é a
atividade mais popular entre os holandeses, mas voltemos a pensar no Brasil com
seu clima quente e a essa mania besta de tomar banho todo dia. A maioria do
pessoal que usa bike para o trabalho acaba fazendo acordo com academias de
ginástica pra tomar banho antes do expediente.
Segurança é outro
ponto fundamental, especialmente em grandes cidades. Metade das crianças e
aborrecentes de 9 a 17 anos na Holanda – pra ser mais preciso, 49% segundo
pesquisa – vai sozinha de bicicleta para a escola. Numa cidade como São Paulo,
esse número seria impensável, mesmo se todas as condições fossem ideais. E para
o trabalho? Eu tinha medo de andar com o laptop dentro do carro, imagina de
bicicleta? É ser parado no sinal e ficar sem nada. Sim, é uma condição que não
depende de políticas ciclísticas ou que possa ser remediada logo. Mas, é um
fato que não pode ser ignorado por quem formula as políticas de transporte.
Outro ponto é o furto das próprias bikes. Sim, na Holanda o
furto – vale lembrar que furto é quando roubam seu bem sem você estar presente
ou ser ameaçado fisicamente – é um crime comum e cerca de 4% das bikes são
roubadas anualmente indo parar nos comércios alternativos. Tanto que muito
holandês usa umas bikes bem fuleiras para o dia-a-dia. Essa que ele larga o dia
todo na estação, costuma ser do tipo caindo aos pedaços. Mas, sempre tem como
minimizar o risco, tomando cuidado onde você para e como tranca sua fiets.
Tenho pra mim que se tivéssemos no Brasil bicicletas paradas nas ruas em todo
canto da cidade, o índice de roubos seria bem maior. E aí? Vai arriscar ficar
sem sua bike, caso não tenha um lugar seguro pra deixa-la?
Curiosamente, não existe na Holanda uma solução comum na
maioria das grandes cidades europeias e que existe também em São Paulo e no
Rio, que é a bicicleta comunitária, aquelas estações onde você pega uma bike e
paga um X por hora até larga-la em outra estação similar. O motivo é simples:
todo mundo tem bicicleta, de forma que um sistema desses não tem razão de
existir. Nas cidades turísticas, como Amsterdam, também aluga-se bikes a cada
esquina.
Falando em turismo, o cicloturismo é quase universal por
aqui. Em qualquer lugar, seja em internet, Tourist Information ou livrarias, há
mapas e mais mapas de Fietsroutes, rotas de bicicletas, especialmente pelas
estradinhas do interior. Algumas cidades, como Eindhoven, têm percursos
marcados para ciclistas de diversos níveis. Nas férias, também, holandês adora
viajar de motorhome e trailers (é mais barato, claro) e sempre tem várias
fietsen presas da traseira deles.
Também não dá pra ignorar o ciclismo como esporte. Todas as
cidades têm seu Wielervereigen, ou clubes de ciclismo, para esportistas de
todas as idades e níveis. Provas como o Tour de France são verdadeiras Copas do
Mundo, onde todos acompanham dia a dia as etapas. Nesse caso, eles reclamam da
falta de montanhas no país e justificam que nunca conseguem ter um ciclista de
ponta no Tour, já que não conseguem formar “escaladores”, ciclistas bons de
montanha.
Essa pode parecer utopia num país que começa a pensar em
bicicletas como meio de transporte, mas em algumas cidades já implantaram
semáforos inteligentes que aumentam o tempo para ciclistas quando está chovendo,
ou pior, nevando. Esse ano implantaram semáforos assim na cidade de Groningen,
no norte da Holanda. A expectativa é que se espalhem pelas demais cidades do
país brevemente.
Como disse, pode parecer utopia, mas é uma demonstração de
como esse meio de transporte é prioritário para os governos. No Brasil, infelizmente,
ainda é tratado mais com fins eleitoreiros do que realmente como política
pública.
ENFIM...
Acho que algumas ideias podem ser bem aproveitadas, por mais
que seja inviável pensar no ciclismo como meio universal de transporte no
Brasil. Se conseguirmos diminuir o número de pessoas que pega um carro pra
andar 4 ou 5 km ou mesmo dar uma opção para o sujeito que precisa chegar a uma
estação de metrô pra ir trabalhar, o trânsito das grandes cidades agradece.
Pensando racionalmente, não dá pra espalhar ciclovias por
todas as ruas das cidades brasileiras, mas que se comece fazendo ciclovias DE
VERDADE em alguns principais corredores, que possam carregar o tráfego mais
intenso. Até porque a quantidade de ciclistas é outro item de segurança. Mais
improvável de um motorista de ônibus não te ver se você estiver junto de outras
dezenas de ciclistas.
Também que se invista em locais para estacionar bicicletas
especialmente nos pontos de comutação de transporte, como estações de metrô e
terminais de ônibus. Claro, com um mínimo de segurança pro sujeito encontrar
sua magrela quando voltar.
Por fim, que as próprias empresas e condomínios comecem a
pensar em investir num cobertinho pra guardar bike e num pequeno vestiário para
funcionários e visitantes. Caramba, estou falando de investimentos mínimos...
É isso, não
precisamos ser uma Holanda pra implantar políticas sérias e racionais para o
ciclismo.
Depois de um tempinho
morando aqui, já deu pra notar algumas diferenças entre nós, brasileiros, e os
holandeses. Algumas coisas pra melhor, outras pra pior e ainda outras que são
meras curiosidades. Claro que vamos generalizar pra caramba aqui, nem todo
mundo é igual no país e, mesmo sendo um país minúsculo, há suas diferenças
regionais.
Leia sem compromisso:
A comida nacional da
Holanda é o sanduíche. Fazem sanduíche de tudo e comem a qualquer hora. Um almoço
típico são 4 sanduíches de pão, 1 (UMA!) fatia de queijo ou outro frio, nunca
os dois juntos, e uma pastinha qualquer. Isso é comido aos poucos, entre as 10h
e 15h. Tomando leite.
Não existe um prato
nacional. Se quiser comer um “prato típico holandês” não achará um restaurante
que o sirva. Há restaurante do mundo todo, menos holandês.
Se quiser algo bem
típico, vá a uma feira e peça um haring:
arenque cru, temperado num molho lá e com cebola picada. Eles comem que nem
come-se peixe em desenho animado, pega pelo rabo, levanta o braço e desce em
direção à boca.
Como se deve comer um haring
Horário de pico em
restaurantes é entre 18:00h e 18:30h. Pra ser servido, chegue antes das 21:00h.
Sem exagero.
O holandês não faz
grandes compras de mercado, normalmente vão aos mercados várias vezes na semana
e fazem compras pequenas, que dê pra carregar sem problema, na volta do
trabalho ou no bagageiro da bike. Logo, não há hipermercados no país.
Quando um bar tem
mesas na calçada, se estiver sol, eles fecham o guarda-sol. Se estiver nublado,
eles abrem. Depois de ver como o sol é artigo de luxo aqui, entendi o porquê.
Se tá sol, fecha o guarda sol
Nunca duvide da capacidade
de um holandês em economizar uns euros. Não é lenda, nem maledicência de
vizinho: holandês É pão duro.
Uma instituição
holandesa é a automatiek, vending
machines com sanduíches, salgados e frituras em toda parte. Coloca a moeda e
abre-se uma portinha pra tirar seu lanche.
Nas férias, existem
dois programas básicos para holandês: num, fecham um pacote em um resort
(acredite, tem uns muuuuito baratos) nas praias da Espanha ou da Turquia e
ficam torrando ao sol, enchendo a cara de cerveja. Noutro, pegam seu trailer,
enfiam a molecada, bikes e churrasqueiras dentro; seguem pra um camping na
França e ficam lá com outros holandeses, enchendo a cara de cerveja.
Por ser um país
pequeno, eles acham inconcebível pegar um carro e dirigir 4 ou 6 horas pra
algum lugar e só passar um feriado. Paris está a 4h de carro daqui e muito
holandês nunca se dignou a ir até lá.
Nas férias, eles
fazem algo muito esperto. As aulas nas escolas terminam de forma escalonada:
primeiro no norte, uma semana depois no centro do país e, semana seguinte, no
sul. Dessa forma, as estradas não congestionam muito.
Eles acham que têm
congestionamento aqui. Precisam pegar uma Marginal Tietê ou uma Avenida Brasil
véspera de feriado, caindo uma tempestade, pra aprenderem a não reclamar.
Todo holandês fala
inglês. Alguns falam bem e outros falam bem pra caramba. Ainda é muito comum quem
fale alemão e/ou francês.
Eles não se ofendem
com quem chega falando inglês direto. Ao contrário de outros europeus, eles
entendem que você não é obrigado a falar holandês. Inclusive se você arriscar
uma frase ou outra em holandês, eles logo mudam pro inglês.
O mesmo não vale pro
alemão; mesmo aqui mais perto da fronteira, onde muitos falam a língua, eles
não curtem quem chega falando alemão.
Eles detestam os alemães.
Dizem que é por causa da 2ª guerra, mas achamos que tem mais a ver com o
futebol. Uma grande frustração é que o sentimento não é recíproco: os alemães
não estão nem aí.
Nenhum filme ou
programa de TV tem seu título traduzido, é sempre original. E nem só do inglês.
Compramos um bluray do Tropa de Elite 2 aqui e na caixa estava: Tropa de Elite
2.
Tirando programas
infantis, nada é dublado na TV. Alguns programas estrangeiros são legendados;
outros, nem isso.
Muito brasileiro fala
que furar fila é sinal de subdesenvolvimento. Se for, a Holanda é o Congo. Aqui
furam fila na maior cara de pau. O sujeito já se posiciona não atrás de você,
mas já meio do lado, numa distância pouco confortável para um estranho ficar.
Bobeou, ele corta sua frente, mesmo.
Uma coisa que
holandês adora é reclamar: reclamam do tempo, do governo, dos trens, dos preços
no mercado, dos hospitais, dos carros, de tudo. Talvez por isso as coisas
funcionem.
As pessoas acreditam
umas nas outras. Se você chega num lugar e fala “sou o André”, ninguém vai pedir
documento, firma autenticada (nem sabem o que é isso), declaração de sei lá o
quê... se você falou, tá falado. Sério, quando fomos retirar o carro na concessionária,
entramos e saímos sem apresentar um documento, um papel, nada.
Sempre nos perguntam
do frio aqui. Olha, o problema não é o frio: é a falta de calor, pois o verão
costuma durar uma semana. Isso quando não se passa 4 semanas sem ver o Sol; acontece.
O que deprime no inverno é o dia durar das 9h às 16h, apenas.
Acredite, a Holanda
tem praias bonitas. OK, não é o litoral do nosso nordeste, mas é bem decente. A
água é fria e não faz calor, mas que tem praia, tem.
Não é tão mau assim...
Como a costa da
Holanda é formada por dunas e o país está, em boa parte, abaixo do nível do
mar, aqui é o único lugar onde ninguém “desce pra praia”, aqui o pessoal “sobe
pra praia”.
Tudo é no diminutivo.
Eles usam os diminutivos “tje” ou “sje” (fala-se algo como “tchiê” ou “xiê”)
muito mais que usamos “inho” e “inha”.
Eles acham que aqui
chove muito. Mentira, chove pouco, mas aquela chuvinha chata que não passa. Não
existe aquela concepção de pé d’água que temos no Brasil, que cai o mundo e
abre um solzão depois.
Eles gostam muito de
tortas doces, a ponto de se servir torta (vlaai) e não bolo nos aniversários. Mas
não existe na Holanda aquilo que conhecemos por torta holandesa no Brasil.
Aliás, nos
aniversários, eles não cumprimentam apenas o aniversariante, mas toda sua
família. Dão parabéns, mesmo, pra todo mundo. Povo doido...
Vendedores raramente
ganham comissão. É bem comum você querer comprar um produto e eles indicarem um
mais barato, que faça a mesma coisa.
Por outro lado,
quando você precisa de um vendedor pra tirar uma dúvida, eles parecem
pressentir e somem!
Tirando lojinha de
turista em Amsterdam e algumas grandes redes, o comércio fecha às 18h e dane-se.
Ainda dão uma lambuja e uma vez por semana tem o koopavond, quando abrem até as 21h. Domingo, exceto um por mês
chamado koopzondag, tudo fecha. Realmente,
eles não gostam de vender.
Alívio pra uns,
pesadelo pra outros: não há nada que se assemelhe a um shopping center.
Prédios e casas não
possuem área de lazer. Seja uma piscina, uma quadra ou um parquinho, sempre a
área de lazer é pública. Em alguns casos, até escolas, no recreio, usam
parquinhos nas ruas pras crianças brincarem.
Ninguém escova os
dentes no almoço e acham bizarro quem tem esse hábito.
As janelas não
possuem persianas e é comum andarmos nas ruas e vermos o interior das casas,
com o pessoal lá, de boa. Mas, com roupa. Se vir uma mulher na janela quase sem
roupa, você está no Red Light.
Falando em Red Light,
a prostituição não apenas é legalizada, como as moças são registradas na
prefeitura, pagam impostos e são obrigadas a apresentar exames de saúde periódicos
pra renovar suas licenças. Isso chama-se uma putaria organizada.
Tudo se faz de bicicleta:
levam os filhos na escola, carregam compras, falam no celular, carregam a
namorada sentada no bagageiro (apesar de estar escrito: limite de 25kg), vão
pro trabalho, pra balada ou só passeiam. Tudo ao mesmo tempo e sem capacete.
Ao subir em uma
bicicleta, o holandês passa por uma mutação que o impede de respeitar sinal de
trânsito, mão de direção, faixa de pedestre e até pedestre. Ainda disparam
aquelas buzininhas irritantes: trrrrim... trrrim...
A ciclovia é uma
selva: tem bicicleta, bicicleta motorizada, lambreta, mobilete, cadeira de
rodas, carrinho elétrico, skate, patins... tem roda e não é carro, tá na
ciclovia. Para visitantes: preste mais atenção com ciclovia que com rua, pois
se bobear, vai tomar uma bicicletada, mesmo.
Andar de minissaia ou
vestido esvoaçante na bike? Sem problemas, ninguém liga.
Todos usam
bicicletas. Até o primeiro ministro vai trabalhar de bicicleta de vez em quando.
Eles não são chegados
a cumprir leis que não acreditam muito. Exemplo: falaram que os coffeeshops
(onde se vende maconha) deveriam controlar a venda apenas pra residentes; o
prefeito de Amsterdam disse que não fiscalizaria, pois não teria como; e tudo
bem. Outro: se colocam uma placa que não pode parar bicicleta, eles pararão, a
não ser que haja um motivo pra isso.
Falando em coffeeshop,
lá dentro pode fumar maconha, tudo bem. Mas, se quiser fumar cigarro normal,
tem sair e fumar na rua.
Um conceito
intraduzível do holandês é o gezelligheid (algo como rezélirraid). É a sensação
de estar fazendo algo bom, com boa companhia. Tomar uma cerveja na praça com os
amigos é gezellig, patinar com os filhos num canal congelado é gezellig, por aí
vai. Eles gostam de apreciar as coisas simples e boas da vida.
Praticando Gezelligheid
Pouco se vê o pessoal
usando marcas importantes de roupas e carros para ostentação. Pelo contrário, fazem
questão que você ache que são mais pobres do que realmente são.
O status do holandês
não está no dinheiro, está na árvore genealógica: um belo sobrenome e
antepassados 100% holandeses são mais símbolos de status que qualquer marca.
Eles são os reis do “faça
você mesmo”. De mudança de casa a instalação de pisos, um holandês só contrata
um profissional em casos extremos.
O verdadeiro teste
pra ver se alguém é holandês chama-se Drop. É uma balinha preta, ruim pra cacete,
meio salgada, meio doce e que só quem come desde o berço gosta. Eles devoram
toneladas de Drop anualmente e nenhum estrangeiro se acostuma com isso.
Adoram fritura, a
ponto do mercado vender galões de 5 litros de óleo pra fritura e nem as
lanchonetes disfarçarem: essas de vender tranqueira chamam-se Frituur, mesmo.
Apesar de comerem
muita fritura, doce e pão, o holandês é um povo magro. Difícil ver holandês
gordo, mas quando se vê é gordo gordo, mesmo. Holandês “gordinho” não existe.
Comem batata frita
com tudo, é o acompanhamento universal. Quem viu Pulp Fiction, sabe: com muita
maionese. Muita. E cebola picada. Só não comem batata frita tomando cerveja.
Quando sentam pra tomar cerveja, normalmente não comem, exceção eventual ao bitterballen,
bolinhas fritas de carne com um recheio cremoso. Não pergunte o que tem nele.
Fritjes met mayo
É um povo bem honesto
no geral – embora haja suas exceções. Por exemplo, se o cara sai um pouco mais
cedo do trabalho num belo dia de sol para uma cerveja na praça, ele não precisa
matar a avó ou inventar um dentista. Ele avisa que vai sair mais cedo pra tomar
uma e pronto.
O holandês quase não
faz hora extra, bem raro, mas nas horas que fica no escritório, ele é de uma
produtividade incrível: não fica indo no cafezinho, fofocando no corredor e
ainda come em cima do computador. São 8 horas de trabalho, mesmo.
Na hora de tomar um
café no meio do expediente, há umas bandejinhas para copos nos departamentos,
pra não perder tempo. Quem levantar primeiro leva a bandeja e trás café pros
outros.
Um holandês não olha
pra você na rua. Pode passar um sujeito de terno roxo com bolinhas amarelas ou
uma gostosa de minissaia, ele não perde o foco da caminhada. Se tomar uma
trombada ou um atropelo de um holandês na rua, ele não te viu, mesmo.
Se vir alguém com
camisa de time de futebol na rua, das duas, uma: ou é gringo ou é dia de jogo.
Eles não usam camisas de futebol num dia comum.
Sabe aquela regrinha
de convivência de esperar as pessoas saírem do elevador ou do trem? Aqui não
vale. Na saída do trem sempre há uma parede de pessoas tem impedindo e, no caso
do elevador, elas entram antes de você sair. Tome cuidado pra não ficar lá
dentro.
Deve ser o país com o
maior percentual de carros conversíveis, mesmo quase não fazendo sol. Ou,
apesar disso, afinal quando faz sol, eles não querem desperdiçar um segundo de
fotossíntese.
Eles adoram se
intrometer na sua vida. Se perguntarem quanto você ganha, quanto você paga de
aluguel ou se você tem certeza que vai comprar algo tão caro, não ligue, não é
por maldade. Eles são assim.
Todo mundo, 100% dos
holandeses, atende o telefone com o próprio nome. Não existe uma tradução para “Alô”.
Ou fala direto o nome ou “met (nome)”. Met significa “com”.
Obrigatoriamente, por
lei mesmo, holandês só tem um sobrenome. Pode ser do pai ou da mãe, mas só pode
ser um. Em compensação, têm 3, 4, 5 nomes.
Quem não é da
província da Holanda, como aqui em Eindhoven, fica puto se falamos Holanda
(Holland) em vez de Países Baixos (Nederland). Mas, na hora de torcer pra
seleção deles, todos gritam “Hup, Holland!”.
Perto de bares ou
lugares de muito movimento sempre tem mictórios públicos, mas só na versão
masculina. Um totem de plástico com 4 lados e um buraquinho no meio. Vai,
melhor que mijar na parede da sua casa.
Guardanapo de papel é
artigo de luxo. Quando vem, vem um. Sim, comem tudo direto com as mãos e não
necessariamente lavadas.
Políticos costumam
ser jovens, é muito comum ver o pessoal mesmo em altos cargos na casa dos 30 ou
40 anos. Ao contrário do Brasil eles têm uma profissão e muitas vezes voltam a
ser professores, advogados ou médicos após cumprirem seu mandato.
A família real mora
em Haia. O primeiro ministro despacha em Haia. O parlamento fica em Haia. O
Judiciário está em Haia. As embaixadas estrangeiras, todas em Haia. A capital
do país é... Amsterdam.
Terra é algo bem
escasso na Holanda. Em volta das cidades é bem comum ver tipo uma fazendinha
comunitária: cada um aluga um terreninho que não deve ter mais de 50 ou 100 m2,
faz um quartinho de ferramentas e planta sua horta ou canteirinho de flores.
Chegam pela manhã, brincam um pouco de fazendinha e voltam pra casa.
Nada deixa um
holandês mais doido que as palavras natuurijs
schaatsen, ou patinar em gelo natural. No inverno, com lagos e canais
congelados, eles saem todos de casa pra patinar o dia todo. Com a família toda,
até com mães empurrando carrinhos de bebê no gelo.
Schaatsen...
Alguns lugares possuem
uma privada bem estranha. A aguinha fica bem na frente e atrás é tipo uma bandeja.
Se você tiver feito número dois, a resposta é sim, ele fica lá na bandejinha te
esperando. Diz a lenda que os locais inspecionam sua obra, mas reluto em
acreditar.
Tranquilo... a de casa não é assim, não.
Falando nisso, quase
toda casa, mesmo as maiores, só possuem uma privada, uma “casinha” que é,
inclusive, separada do resto do banheiro.
A tiazinha do
banheiro é uma tradição meio anacrônica. A maioria dos banheiros públicos é
paga e, pra isso, tem uma tiazinha na entrada, com um pires de moedas. Ela dá
uma limpadinha (no banheiro, entenda-se) de vez em quando e passa o dia lá,
sentada.
Não estranhe se uma
mulher entrar pra limpar o banheiro masculino ou um homem for limpar o banheiro
feminino. Aja naturalmente.
Nada, nada é mais
chato que os draaiorgel. Uns mega realejos,
do tamanho de um trailer, que eles param no meio do caminho, no centro das
cidades tocando uma música pentelha e os bonequinhos dançando. Até aí vai, mas
o pior é que ficam uns 3 ou 4 caras com uma caneca de metal com moedas, chacoalhando
no ritmo da música, de forma que só o que você ouve são as moedas chacoalhando.
Dá vontade de perguntar: “se eu puser uma moeda, você para?”.
O holandês não é tão
exigente em termo de cerveja, como um belga, mas é bem bairrista. No sul, o
pessoal bebe mais as cervejas do sul: Bavaria e Dommelsch. Em Amsterdam, quase só
se acha Heineken e Amstel.
No calor (quando
aparece), eles curtem também um vinho rosé ou branco. Até aí, beleza... mas
precisa colocar uma pedra de gelo na taça?
Uma pessoa sozinha em
um trem consegue ocupar 4 lugares com uma rapidez incrível.
Existem dois tipos de
trem: o expresso, que só para nas principais estações e o pinga-pinga que para
em todas. O expresso chama-se InterCity e o pinga-pinga chama-se Sprinter. Não
faria mais sentido o contrário?
Trens na Holanda
atrasam vez ou outra. Se o trem for pra Bélgica, vez ou outra estará no horário.
O holandês, quando
viaja de avião, faz questão de levar sua bagagem de mão numa indefectível sacola
azul do Albert Heijn, o principal mercado daqui. Outra sacola não serve, tem
que ser do AH. Deve ser pra marcar território, mostrar que é holandês, sei lá.
A onipresente sacola azul do AH: mais necessária que passaporte
Há muito senso de
igualdade entre as pessoas, o cara não se julga – nem é julgado – mais ou menos
que alguém pela profissão ou pela posição social. Se o cara é médico,
engenheiro, garçom ou zelador, todos se tratam igualmente e isso funciona nas
duas mãos: alguém, em tese, “mais humilde” não abaixa a cabeça pra falar com o “dotô”,
assim como o “dotô” não vai destratar o outro que o serve.
Tudo se faz via
carta. Resetou sua senha num site oficial? Te mandam a nova pelo correio. Seu
hollerith (contracheque) chega pelo correio. Qualquer procedimento que se faça
com o governo, o próximo passo é sempre esperar uma carta. Comunicação do
banco? Correio. E nada daquelas cartas que se dobra o papel e tem que picotar
as margens. Não, tudo com envelope, selo e o caramba. Ainda bem que o correio
funciona.
Na sua caixa de correio,
dá pra colocar um adesivo falando se você que receber material não solicitado,
como propagandas. Nem todo mundo respeita, mas a verdade é que recebemos bem
pouca coisa destinada “ao morador” ou só jogada lá.
Uma ótima é poder
escolher no caixa eletrônico quais cédulas você quer receber no seu saque.
Tudo se paga no
cartão de débito, o chamado Pin. De
feirante a barraquinha de comida, o verbo mais conjugado é Pinnen. Cheque é algo inexistente.
Preferimos Pin que dinheiro
Especialmente no
trabalho, eles são muito diretos e não possuem nenhum tato. Se achar que um
holandês foi rude, ele provavelmente foi, mas saiba que não é pessoal.
Sabe chocolate
granulado e confeitos em geral que colocamos nos bolos? Holandeses – crianças e
adultos – colocam sobre o pão e comem no café da manhã. Essa iguaria chama-se hagelslag.
Holandeses realmente
amam tulipas. Outras flores também, mas nada supera as tulipas.
Escadas são sempre
íngremes e estreitas. A piada é que “escada” em holandês é trap, igual “armadilha” em inglês.
Pra um holandês
convidar alguém pra ir à sua casa, é um evento formal.
Tirando as de
cervejas, creio que aqui se façam as piores e mais toscas propagandas que
existem.
Durante muitos anos o trem foi quase monopólio nas viagens que se
faziam dentro do continente. Quem vinha do Brasil pra cá usava a estrada de
ferro ou, eventualmente, alugava um carro pra se deslocar de cidade em cidade.
De uns anos pra cá, tem ficado cada vez mais popular pegar voos de companhias
chamadas Low Fare ou Low Cost, que oferecem passagens, muitas vezes, mais
baratas que as de trem e cobrindo distâncias maiores.
Isso muda muito o jeito de se planejar uma viagem pela Europa, pois já
não é necessário seguir uma linearidade no roteiro, nem aproveitar trechos,
encaixando cidades que talvez não se visitasse. Voando, é possível alterar
totalmente o foco da viagem, pulando das praias da Espanha para o frio da
Polônia, facinho, facinho. Some a isso o encarecimento que o transporte
ferroviário teve nos últimos anos e vemos uma explosão de ofertas de voos para
as mais diversas cidades da Europa.
Mas, as Low Fare estão longe de ser a oitava maravilha para o viajante.
Se não tomar cuidado, muita dor de cabeça e custos extras podem ferrar com sua
viagem. Só que estamos aqui pra ajuda-lo a lidar com essa bagaça.
O Barato
Pode Sair Caro
O preço da tarifa chama a atenção, mas se você começar a somar os
custos acessórios pode chegar a pagar mais que se fosse, digamos, de trem.
Mesmo comparando voos com companhias aéreas comuns, a coisa pode encarecer,
veja o porquê:
1 - Bagagem:
em Low Fare só é permitido um volume de bagagem de mão, com 10kg no máximo.
Bagagem despachada pode custar de € 10 a até € 40, por volume, dependendo do
peso, da companhia e do trecho que se está voando. E eles são chatos com isso –
afinal, é onde ganham dinheiro... – especialmente com permitir apenas 1 volume.
Vale o alerta, em particular, para as mulheres que costumam viajar com sua bolsa
a tiracolo e mais uma mala: não pode, um volume é um volume.
Peso, é mais
difícil conferirem, mas acontece. Tamanho, sempre têm daqueles gabaritos de
metal com o tamanho permitido e é bem comum pedirem pra verificar. Já vimos, em
Londres, sujeito socando a mala até caber no gabarito e depois quase não
conseguir tirar de lá.
2 - Distância
do Aeroporto: muitas Low Fares usam aeroportos secundários, inclusive alguns
que eram bases aéreas desativadas, que construíram um terminal. Ou seja, muitas
vezes esses aeroportos são distantes da cidade de destino e paga-se um bom
dinheiro pra se chegar ao centro. Sempre há shuttle fazendo o serviço, mas some
aí uns € 15 ou € 25, dependendo do caso. Pesquise antes.
Por exemplo,
o aeroporto de Weeze, que fica na Alemanha quase divisa com a Holanda, é
vendido como Düsseldorf, mas fica a quase 80km do seu centro; sendo que
Düsseldorf tem seu aeroporto. É como viajar pra São Paulo achando que vai
pousar em Congonhas e chegar em Viracopos.
Na lista
abaixo, alguns exemplos desses truques, com a cidade-base, o nome do aeroporto
vendido e a distância efetiva entre eles.
- Düsseldorf (Weeze): 78km
- Frankfurt (Hahn): 124km, é
quase em Luxemburgo!
- Barcelona (Girona): 95km
- Barcelona (Tarragona/Reus): 105km
- Bruxelas (Charleroi): 60km
- Paris (Beauvais): 90km
- Paris (Vatry/Disneyland): 162km (Mesmo da EuroDisney, são 124km!)
- Estocolmo (Skavsta): 106km
- Estocolmo (Vasteras): 104km
- Londres (Stansted): 66km
- Milão (Bérgamo): 55km
- Munique (Memmingen): 117km
- Oslo (Moss/Rygge): 70km
Todas essas
cidades possuem seus aeroportos principais que são mais próximos do centro.
Algumas Low Fare voam também para esses aeroportos principais, então, fique
atento.
3 - Tudo paga: qualquer coisinha a mais, paga taxa. Fazer o pagamento no
cartão de crédito, paga. Check in no aeroporto, paga (tem que fazer pela
internet e levar o cartão de embarque impresso). Reservar assento, paga.
Prioridade no embarque, paga. Lanche no avião, paga. Água no avião, paga. Na
RyanAir chegam até a vender raspadinhas e calendários das aeromoças de
lingerie, pra reforçar a receita.
Como Achar Bons Preços
Boa parte dos voos Low Fare é consumida pelo pessoal daqui, de forma que
quanto mais você fugir de horários óbvios, melhor. Tipo, sair numa sexta-feira
ou domingo à noite, esquece. Alta temporada (junho a agosto), também complica.
Procura naqueles horários, tipo quarta-feira, no meio da tarde ou no começo da
manhã, que a probabilidade de bons preços melhora.
Aqui, elas funcionam como qualquer cia aérea: possuem 3 níveis de preços.
X passagens baratas; acabou, Y passagens a preços médios; acabou, Z passagens
mais caras. Portanto, quanto mais antecedência, melhor. Fora isso, pode ficar
dando uma olhada nos sites das empresas, pra ver alguma oferta de última hora,
mas aí, vai ter que ir pra onde tem, não pra onde você quer.
Com a devida antecedência e sorte, porém, dá pra achar voos por menos de
€ 30, cada perna, sem maiores transtornos.
Praticidade
Já falamos dos aeroportos mais distantes, então, prepare-se para somar uma
hora ou mais na chegada ou na saída, caso seu aeroporto seja daqueles mais
distantes. Nesse ponto, o trem leva uma vantagem pois, apesar da viagem em si
ser mais longa, além das estações ferroviárias serem mais centrais, dá pra
chegar 5 minutos antes do trem sair e embarcar. Aeroporto, já viu: pelo menos
1:30h ou 2:00h de antecedência.
Agora, as Low Fare ganham em termos de praticidade das Aéreas normais na
compra de passagens descasadas. Nas Low Fare compra-se cada perna independente
das demais. Pode ir por uma, voltar por outra ou seguir viagem pra outro lugar,
sem problemas. Não tem nem desconto se comprar ida e volta casada, portanto,
compre as pernas sempre separadamente.
Quem são?
Existem várias companhias Low Fare operando no continente; algumas
independentes, outras são subsidiárias de Cias normais. Uma desvantagem das
independentes é a falta de garantia e suporte ao cliente. Normalmente, o
serviço é uma porcaria e o passageiro que se dane. Certa vez a Ryan Air nos
largou em Hahn a 300km de onde deveríamos descer (Weeze) à 1:00h da madruga,
pois Weeze havia fechado. Não nos deram transporte, comida, hospedagem, porra
nenhuma e só saímos de lá às 7:30h, depois de dormir, no chão, na frente do
balcão de Check In. Pergunta se alguém deu alguma satisfação? Numa subsidiária,
pelo menos, tem pra quem reclamar.
Vamos a algumas dessas companhias. Se estiver um (Ind) após o nome,
trata-se de uma Cia independente. Caso seja uma subsidiária, tem o nome da
companhia mãe entre parêntesis.
- Air Berlin (Ind): curioso que esta trabalha no sistema “normal” ou no
Low Fare, dependendo da passagem que você comprar.
- Air Europa (Ind)
- Air One (Alitalia)
- ArkeFly / TUIFly (Ind): é uma operadora de turismo, normalmente os voos
são casados com seus pacotes
- Brussels Airlines
(Ind)
- EasyJet (Ind)
- Flybe (Ind)
- Germanwings
(Lufthansa)
- Hop! (Air France)
- Jet2 (Ind)
- Ryan Air (Ind): a
maior e benchmarking na area. Lixo de serviço, mas é barata.
- Smart Wings (Ind)
- Transavia (KLM)
- Vueling (Iberia)
- Wizz Air (Ind): opera basicamente Leste Europeu
Dicas Finais
Resumindo, o que precisa saber pra voar Low Fare:
- Não saia comprando Low Fare direto. Faça sempre uma comparação Aérea
normal X Aérea Low Fare X Trem. E pense não só no preço, mas em praticidade,
tempo de deslocamento e conforto.
-Sim, conforto. Algumas Low Fare apertam tudo e a distância entre bancos
é mínima. Em alguns casos, como na Ryan Air, o assento nem reclina por causa
disso. Num voo de 1h, beleza, mas pegamos um de 4h pra Marrakech que foi um
suplício.
- Via de regra, pegar um voo – seja normal ou Low Fare – vale a pena para
distâncias a partir de 400 ou 500km, em termos de tempo de viagem e preço.
Menos que isso, o terrestre tende a ser mais vantajoso.
- Uma exceção costuma ser a Inglaterra, pois várias empresas Low Fare têm hub lá. Somado a isso, o trem (Eurostar) é carinho e o Ferry, demorado.
- Pense bem na sua bagagem antes de vir pra cá. Voos do Brasil têm uma
franquia de 2 malas de 32kg e carregar isso em Low Fare é inviável. Pelos valores
adicionais de bagagem, o ideal é, no máximo, uma mala de 20kg e uma de mão, até
10kg.