21 setembro 2011

Jardim da Cerveja


Todo mundo que aprecia uma cervejinha já ouviu esse termo: Biergarten. São os famosos locais de reunião dos germânicos pra dividir uma gelada com os amigos. Semanas atrás tiramos nossas primeiras férias aqui e fomos para Munique encontrar nossos padrinhos Débora e Renato para conhecer as cervejas alemãs e virmos subindo de carro para Eindhoven.

O Início dos Trabalhos, Direto do Aeroporto...

É  bom começar conceituando a parada. O que é um Biergarten? Sei lá qual é a definição que o Aurélio Chucrute dá, mas pra mim, a alemãozada avacalhou o conceito. Qualquer bar com uma área externa que venda cerveja virou Biergarten. Em Augsburg, um Box no meio da feira que tinha um cercadinho com umas cadeiras, já se chamava de Biergarten. O quintal de uma cidadã em Rothenburg ob der Tauber (aliás, um lugar bem bacana) também se outorgava o mesmo título.

O Quintal que queria ser Jardim

Eu fiz minha própria definição: Biergarten é um monte de mesa num lugar público onde você para pra tomar uma cerveja comprada numa barraca das redondezas, pronto! Dane-se que o chamado “Biergarten mais antigo de Munique”, o Augustiner, não é assim. O Augustiner é um bar. Não estou desdenhando, é um bar legal pra cacete e deve ser ainda mais no frio, com seus ares de estalagem medieval. Mas lá entra-se, senta-se, pede-se as cervejas pro garçom, que no final te apresenta uma conta. Um bar. Assim como o ótimo Weihenstephaner, em Freising, perto do Aeroporto; a cerveja mais antiga ainda produzida no mundo tem seu próprio bar. Locais recomendadíssimos, mas não são  Biergartens (sorry os versados em alemão, se posso definir a palavra do meu jeito, também faço o plural como quiser).

Entrada da Weihenstephaner

Melhor exemplo de Biergarten é o Viktualienmarkt, no centro de Munique. Trata-se de uma praça arborizada com um monte de mesas e bancos, ABERTA, se quiser sentar lá e jogar dominó, problema nenhum: é uma mesa pública. Em volta, várias barracas: uma vende cervejas, outra serve acepipes bávaros (experimente o Leberkäse, um sanduba com uma lapa de um embutido qualquer, que é delicioso) e por aí vai. No Viktuallien, ainda tem um bônus, pois lá temos um mercadão a céu aberto com suas barracas de verduras e tal, mas outras vendendo conservas como azeitonas, sardinhas, camarões e outros tira-gostos que você pode levar pra acompanhar sua cerveja.

Outro Biergarten típico é o Chinesischer Turm, que fica no meio do Parque do Ibirapuera deles, o Englischer Garten. Bem maior que o Viktuallien, não temos o mercadão lá, mas há mais opções de comidas e bebidas. Impressionante aquilo lotado, pois nem tenho idéia de quanto cervejeiro tinha lá. Por estar no meio do parque, há vantagens e desvantagens. Você pode emendar uma visita ao Englischer, que á muito bonito, e terminar lá. Mas, simplesmente pegar um metrô pra lá já requer uns 15 minutos de caminhada. E outra: se sair depois do escurecer, com umas cerveja a mais na idéia, achar o caminho de volta é coisa de ninja.

Chinesischer Turm é uma Torre Chinesa, em alemão básico

Uma coisa importante é saber a unidades de medida do Biergarten. Temos o Mass e o Meio Mass. Um Mass é uma antiga unidade de medida usada na idade média na região da Bavária e do Tirol e correspondia a algo como 1,06 litros. Hoje em dia foi simplificada para apenas 1 litro, que é a capacidade daquelas caneconas. Meio Mass, dãããã..., é metade disso. Só não vale chegar lá pedindo Meio Mass pra começar; isso é coisa de frutinha: pelo menos primeira tem que ser um Mass de verdade.

Mass, Mass, Mass, Mass,...

Ainda sobre o Mass, no Chinesischer Turm, quando você mo compra, paga um euro a mais e recebe uma fichinha verde. No final, devolve suas canecas e suas fichinhas pra receber seus euros de volta. Isso alivia a sua culpa no caso de querer levar um souvenir pra casa, caso esqueça de devolver seu Mass e ele entre na sua mochila, seu euro por ele já foi pago! Caso você não queira usar o mesmo copo dessa plebe, tudo bem: leve sua caneca de estimação para o Biergarten e pague só o refil.

Fichinhas!!!

Interessante é notar o povo que freqüenta, tem de tudo. Teve uma mesa que vimos no Chinesischer, com uns 8 velhinhos cuja idade acumulada devia ser quase milenária. E várias canecas sobre a mesa... fiquei pensando quantos hectolitros de cerveja aquela trupe já consumiu junta na história dos Biergartens... coisa de encher algumas piscinas olímpicas. Também me chamou a atenção uma velhinha na fila da cerveja (não tem fila preferencial) no Viktuallienmarket. Não sei quantos anos ela tinha, mas acho que eram todos os possíveis. Pegou seu Mass (viu! Até a irmã do Matusalém vai de Mass inteiro!) com uma cara de quem estava fazendo coisa errada que foi sensacional. Deve ter saído do médico minutos antes e ele deve ter dito que como seus exames estavam bons, que liberaria uma cervejinha pra ela: “Mas um copinho só, hein, Frau Steinhager!”. E lá estava nossa simpática velhinha lambendo os beiços com sua cerveja...

Outra cena fantástica de Biergarten presenciada por mim e pela Débora. Há algumas fontes no Viktuallienmarket e a água que sai dali é bem fria. Paramos os dois pra lavar as mãos numa dessas fontes e lá tinha dois senhores apoiados, conversando. Quando vamos ver, não é que os dois tinham colocado uma meia dúzia de latinhas de cerveja na água fria?

Helles (na cabeça), Weiss (com as meninas) e Radler (sobrando na caneca de frente)

Também vale a pena mencionarmos aqui quais os tipos de cerveja que se encontra num Biergarten. Ao contrário da Bélgica onde se tem 7.528 tipos diferentes, em um Biergarten, a grande maioria das canecas carrega apenas 4 tipos de cerveja:

- Münchner Helles: é a básica, uma lager (baixa fermentação), clara, parecida com a Pilsner que estamos habituados, mas um pouco mais encorpada e menos amarga. Possui mais malte e não precisa estar estupidamente gelada pra ser consumida, o que justifica vir em Mass. Graduação alcoólica na casa dos 6o. Como diz o nome, é típica de Munique.

- Dunkel: Embora também seja uma lager, é escura, um pouco mais amarga que a Helles e um pouco mais forte.

- Weiss: a famosa cerveja de trigo alemã. A maioria das alemãs que vendem no Brasil são deste tipo.

- Radler: é a Helles misturada com uma espécie de soda que dá um gosto de limão e a deixa mais fraca e aguada. É a mais popular entre os motoristas...

Um Bretzel no Viktuallienmarkt

E pra comer? Bom, já falei lá em cima do Leberkäse, mas há outras opções. O básico do básico é o Pretzel. Sabe aquele pretzel que vende em barraquinha de shopping? Então, não tem nada a ver. Começa que aqui chama-se Bretzel e é beeeeem maior que o dito cujo. Na verdade, um pão salpicado de sal que acompanha muito bem sua cerveja. Também é possível achar pratos tradicionais como o Eisbein (o joelho de porco) e o Wiener Schnitzel (um bife à milanesa) ou até mesmo um galeto. Nada muito no estilo “porçõezinhas e beliscos” do Brasil, mas, a gente veio aqui para comer ou para beber?