Todo mundo
que aprecia uma cervejinha já ouviu esse termo: Biergarten. São os famosos
locais de reunião dos germânicos pra dividir uma gelada com os amigos. Semanas
atrás tiramos nossas primeiras férias aqui e fomos para Munique encontrar
nossos padrinhos Débora e Renato para conhecer as cervejas alemãs e virmos
subindo de carro para Eindhoven.
O Início dos Trabalhos, Direto do Aeroporto...
É bom começar conceituando a parada. O que é um
Biergarten? Sei lá qual é a definição que o Aurélio Chucrute dá, mas pra mim, a
alemãozada avacalhou o conceito. Qualquer bar com uma área externa que venda
cerveja virou Biergarten. Em Augsburg, um Box no meio da feira que tinha um
cercadinho com umas cadeiras, já se chamava de Biergarten. O quintal de uma
cidadã em Rothenburg ob der Tauber (aliás, um lugar bem bacana) também se
outorgava o mesmo título.
O Quintal que queria ser Jardim
Eu fiz
minha própria definição: Biergarten é um monte de mesa num lugar público onde
você para pra tomar uma cerveja comprada numa barraca das redondezas, pronto!
Dane-se que o chamado “Biergarten mais antigo de Munique”, o Augustiner, não é
assim. O Augustiner é um bar. Não estou desdenhando, é um bar legal pra cacete
e deve ser ainda mais no frio, com seus ares de estalagem medieval. Mas lá
entra-se, senta-se, pede-se as cervejas pro garçom, que no final te apresenta
uma conta. Um bar. Assim como o ótimo Weihenstephaner, em Freising, perto do
Aeroporto; a cerveja mais antiga ainda produzida no mundo tem seu próprio bar.
Locais recomendadíssimos, mas não são
Biergartens (sorry os versados em alemão, se posso definir a palavra do
meu jeito, também faço o plural como quiser).
Entrada da Weihenstephaner
Melhor
exemplo de Biergarten é o Viktualienmarkt, no centro de Munique. Trata-se de
uma praça arborizada com um monte de mesas e bancos, ABERTA, se quiser sentar
lá e jogar dominó, problema nenhum: é uma mesa pública. Em volta, várias
barracas: uma vende cervejas, outra serve acepipes bávaros (experimente o
Leberkäse, um sanduba com uma lapa de um embutido qualquer, que é delicioso) e
por aí vai. No Viktuallien, ainda tem um bônus, pois lá temos um mercadão a céu
aberto com suas barracas de verduras e tal, mas outras vendendo conservas como
azeitonas, sardinhas, camarões e outros tira-gostos que você pode levar pra
acompanhar sua cerveja.
Outro
Biergarten típico é o Chinesischer Turm, que fica no meio do Parque do
Ibirapuera deles, o Englischer Garten. Bem maior que o Viktuallien, não temos o
mercadão lá, mas há mais opções de comidas e bebidas. Impressionante aquilo
lotado, pois nem tenho idéia de quanto cervejeiro tinha lá. Por estar no meio
do parque, há vantagens e desvantagens. Você pode emendar uma visita ao
Englischer, que á muito bonito, e terminar lá. Mas, simplesmente pegar um metrô
pra lá já requer uns 15 minutos de caminhada. E outra: se sair depois do
escurecer, com umas cerveja a mais na idéia, achar o caminho de volta é coisa
de ninja.
Uma coisa
importante é saber a unidades de medida do Biergarten. Temos o Mass e o Meio
Mass. Um Mass é uma antiga unidade de medida usada na idade média na região da
Bavária e do Tirol e correspondia a algo como 1,06 litros. Hoje em dia foi
simplificada para apenas 1 litro, que é a capacidade daquelas caneconas. Meio
Mass, dãããã..., é metade disso. Só não vale chegar lá pedindo Meio Mass pra
começar; isso é coisa de frutinha: pelo menos primeira tem que ser um Mass de
verdade.
Mass, Mass, Mass, Mass,...
Ainda sobre
o Mass, no Chinesischer Turm, quando você mo compra, paga um euro a mais e
recebe uma fichinha verde. No final, devolve suas canecas e suas fichinhas pra
receber seus euros de volta. Isso alivia a sua culpa no caso de querer levar um
souvenir pra casa, caso esqueça de devolver seu Mass e ele entre na sua
mochila, seu euro por ele já foi pago! Caso você não queira usar o mesmo copo
dessa plebe, tudo bem: leve sua caneca de estimação para o Biergarten e pague
só o refil.
Fichinhas!!!
Interessante
é notar o povo que freqüenta, tem de tudo. Teve uma mesa que vimos no
Chinesischer, com uns 8 velhinhos cuja idade acumulada devia ser quase
milenária. E várias canecas sobre a mesa... fiquei pensando quantos hectolitros
de cerveja aquela trupe já consumiu junta na história dos Biergartens... coisa
de encher algumas piscinas olímpicas. Também me chamou a atenção uma velhinha
na fila da cerveja (não tem fila preferencial) no Viktuallienmarket. Não sei
quantos anos ela tinha, mas acho que eram todos os possíveis. Pegou seu Mass
(viu! Até a irmã do Matusalém vai de Mass inteiro!) com uma cara de quem estava
fazendo coisa errada que foi sensacional. Deve ter saído do médico minutos
antes e ele deve ter dito que como seus exames estavam bons, que liberaria uma
cervejinha pra ela: “Mas um copinho só, hein, Frau Steinhager!”. E lá estava
nossa simpática velhinha lambendo os beiços com sua cerveja...
Outra cena
fantástica de Biergarten presenciada por mim e pela Débora. Há algumas fontes
no Viktuallienmarket e a água que sai dali é bem fria. Paramos os dois pra
lavar as mãos numa dessas fontes e lá tinha dois senhores apoiados, conversando.
Quando vamos ver, não é que os dois tinham colocado uma meia dúzia de latinhas
de cerveja na água fria?
Helles (na cabeça), Weiss (com as meninas) e Radler (sobrando na caneca de frente)
Também vale
a pena mencionarmos aqui quais os tipos de cerveja que se encontra num
Biergarten. Ao contrário da Bélgica onde se tem 7.528 tipos diferentes, em um
Biergarten, a grande maioria das canecas carrega apenas 4 tipos de cerveja:
- Münchner Helles: é a básica, uma lager (baixa
fermentação), clara, parecida com a Pilsner que estamos habituados, mas um
pouco mais encorpada e menos amarga. Possui mais malte e não precisa estar
estupidamente gelada pra ser consumida, o que justifica vir em Mass. Graduação
alcoólica na casa dos 6o. Como diz o nome, é típica de Munique.
- Dunkel: Embora também seja uma lager, é
escura, um pouco mais amarga que a Helles e um pouco mais forte.
- Weiss: a famosa cerveja de trigo alemã. A
maioria das alemãs que vendem no Brasil são deste tipo.
- Radler: é a Helles misturada com uma espécie
de soda que dá um gosto de limão e a deixa mais fraca e aguada. É a mais
popular entre os motoristas...
E pra
comer? Bom, já falei lá em cima do Leberkäse, mas há outras opções. O básico do
básico é o Pretzel. Sabe aquele pretzel que vende em barraquinha de shopping?
Então, não tem nada a ver. Começa que aqui chama-se Bretzel e é beeeeem maior
que o dito cujo. Na verdade, um pão salpicado de sal que acompanha muito bem
sua cerveja. Também é possível achar pratos tradicionais como o Eisbein (o
joelho de porco) e o Wiener Schnitzel (um bife à milanesa) ou até mesmo um
galeto. Nada muito no estilo “porçõezinhas e beliscos” do Brasil, mas, a gente
veio aqui para comer ou para beber?