17 maio 2011

Roteiro Trapista (1/7)

Conforme prometido, vamos descobrir porque tanto blá-bla-blá sobre cerveja trapista. É o seguinte: fixamos um objetivo de visitar todas as 7 cervejarias trapistas no prazo de 1 ano. Não parece nada do outro mundo, mas é sempre bom ter metas pra não deixar as coisas importante pra depois, certo?

Iniciamos nosso roteiro com a primeira das 7 abadias no último sábado e, não por acaso, com a única que fica em inteiramente solo holandês:

LA TRAPPE

Entrada a Abadia de Onze Lieve Vrouw van Konigshoeven (Nossa Senhora de Konigshoeven)

Um pouco de História

A Abadia de Konigshoeven foi fundada em 1880 por monges oriundos da própria Abadia de La Trappe, na França, que sofriam perseguições do governo na época. Encontraram este terreno na cidade de Tilburg (30km de Eindhoven), um antigo campo de caça do Rei Willem II, daí o nome Konigshoeven ou Jardim do Rei. Aliás, diz a lenda que o tal rei - que passava muitos meses do ano aí - só queria saber de caçar mesmo as moçoilas das redondezas.

Em primeiro plano, a cervejaria. Ao fundo, a Abadia.

Voltando, os monges adquiriram o terreno de um comerciante e não conseguiram cumprir o compromisso de pagar por ele em 3 anos, com os frutos da terra. Para levantar mais fundos, um do monge chamado Isidorus, que era cervejeiro em La Trappe, propôs que começassem a fabricar cerveja e assim, o mosteiro começou sua produção no ano de 1884.

Em 1999, após idas e vindas, inclusive uma mal sucedida parceria com a Stella Artois, a abadia entrega a produção para a Bavaria - uma cervejaria local - o que acarreta na perda do selo de Cerveja Trapista. Este só seria retomado em 2005, quando os monges reassumiram o controle sobre a produção e deixaram a Bavaria com a parte administrativa e de vendas da cerveja.

Vitral representando a vida no monastério, incluindo a cerveja.

Hoje, a La Trappe é a maior cervejaria trapista em volume de produção, a com maior variedade de cervejas e a considerada mais "comercial".

O Local

Situada nos arredores de Tilburg, na Eindhovenseweg 3, a abadia fica bastante isolada, embora com fácil acesso. Tem estacionamento, loja de souvenirs, restaurante, além da cervejaria e da abadia. Cerca de 20 monges vivem lá atualmente.

A Lojinha: além de cerveja e toda sorte de coisas relacionadas, vendem queijo, pão e artigos religiosos

O Tour

Há excursões guiadas em holandês e inglês por 10 euros (incluindo uma cerveja), que começa com um filminho contando a história e uma introdução sobre as cervejas. Pena que o filme é em holandês, mas as imagens valiam a pena. É bom fazer reserva, pois não fizemos e a lista estava completa. Mas, nem precisamos usar a lábia que ensaiamos (somos brasileiros, não sabia que precisava reservar, não sei quando teremos outra oportunidade,...), pois o guia nos colocou pra dentro só no bom dia.


Depois, um pouco mais de história e causos contados na frente da cervejaria e entramos para visitar a antiga cervejaria, bastante modesta, mas interessante. Nessa hora, explicações sobre o processo de fabricação de cerveja.

Um dos antigos tanques de fermentação. Um dos dois únicos na Europa feitos inteiramente de cobre.

Saímos no pátio interno e visitamos a antiga padaria do monastério e as modernas linhas de engarrafamento, além de parte do estoque, pronto para partir. Com filme e tudo, são 1:15h de tour, que é bastante interessante, embora o guia tenha começado falando 50/50 entre holandês e inglês, e terminado falando 80/20. Talvez um pouquinho longo, mas bastante recomendado.

La Trappe pronta pra ganhar o mundo...

As Cervejas

Como falamos, a La Trappe é a cervejaria trapista com a maior variedade de produção. São oito diferentes tipos de cerveja feito pelos monges daqui:

- Dubbel: é a típica receita trapista, ale escura e amarga. Ótema!
- Tripel: uma pale ale forte, com adição de coentro.
- Quadrupel: a mais forte (10,5%), com um gosto bem puxado pro caramelo.
Duas loiras e uma ruiva... (nas taças temos, a Witte e a Quadrupel)

- Blonde: uma ale clara e mais frutada, dessas que dá pra tomar de monte.
- Bock: lembra da Kaiser Bock? Então, nada a ver. Única bock trapista e a única que continua fermentando na garrafa. Ficou em segundo lugar no meu ranking.
Uôôôô, Kaiser Bock! Uôôôô, Kaiser Bock! Pra alegria não esfriar, todo mundo vai tomar...

- Isid'or: a que mais gostei e a de distribuição mais restrita, uma homenagem ao monge que começou tudo, Isidorus. Tem um amargo bem acentuado (dizem que o lúpulo é especial, sei lá), mas não é aquele de fazer careta, como a Dubbel.
Uma Isid'or sendo devorada!

- Witte: cerveja branca, de trigo. Assemelha-se muito com a Hoegaarden, mas é melhor. Segundo o tiozinho no balcão, a melhor pra se tomar quando está com sede, mesmo!
- Puur: cerveja meio gay, feita com ingredientes orgânicos, energia verde e bem levinha. É bem boazinha, mas não carecia dessa frescura toda pra ser feita.

O Restaurante

Era realmente chato... aquele sozinho, árvores, mesas de madeira... quase ruim pra acompanhar nossas La Trappes. O ambiente é ótimo, mesmo na parte de dentro, mas o ideal é conseguir o tempo que estava no sábado.

Área externa do restaurante

A parte da comida, na boa, é pra não ficar de estômago vazio. Pedimos sanduíches e a Carol teve sérias dificuldades com a altura do dela... mas parece que tem pratos também, mas o preço era salgadinho: uns 25 euros. Dá pra ficar no sanduba e nas fritas, de boa, porque as estrelas do lugar são as cervejas. Aliás, você pode escolher tomá-las na garrafa ou na pressão.

Encerrando o primeiro tempo, antes de ir para o tour.

Enfim, programa perfeito para uma tarde de sábado e começo com o pé direito na Rota das Cervejas Trapistas!


15 maio 2011

Beber, Rezar, Cair...

Quem já foi um pouco mais a fundo nesse história de cerveja, já ouviu uma palavrinha mágica que acende os olhos de muitos apreciadores: Trapista. OK mas, como diriam os holandeses, "oxi, mas quediabéisso?"



Bom, Trapista é uma ordem monástica (de monges, se preferir) que é um ramo dos Cistercienses, da ala dos Beneditinos. Na verdade, eram Cistercienses que, lá por mil seiscentos e bolinha, na Abadia de La Trappe, na França, acharam que o negócio de vida monástica estava relaxado demais e decidiram montar essa nova ordem, com base na linha dura.

Tá, o que temos a ver com isso? Aí, que começa a coisa... uma dessas regras colocadas por São Bento e que os trapistas mais observam é que o mosteiro deve viver única e exclusivamente do que produzir. Alguns produzem queijos, outros produzem pães e alguns monges mais saidinhos acharam de produzir cerveja.

Dos 174 monastérios trapistas no mundo, apenas 7 produzem e comercializam cerveja, com o aval da International Trappist Association. Esta associação, fundada em 1997 tem apenas 3 exigências para colocar seu selo de aprovação:

- A cerveja deve ser fabricada pelos ou com a supervisão direta dos monges, dentro da abadia.
- As atribuições de cervejeiro devem ser decididas pelos monges
- O propósito da venda da cerveja deve ser apenas o sustento do monastério e a caridade, nunca o lucro.

Essas 7 abadias acabaram por fabricar algumas das cervejas mais especiais e cobiçadas do planeta. Destas, 6 se localizam na Bélgica e 1 na Holanda, conforme mapa abaixo:


Certo, legal,... mas o que isso tem a ver com esse blog?

Ah, aguardem até amanhã - no máximo, depois de amanhã, vai... - e vocês saberão!

11 maio 2011

Pequenas Esquisitices

Clássico. Sempre que vamos pra outros países notamos pequenas esquisitices - do nosso ponto de vista, que é o que vale, claro! - que fazem parte do aprendizado cultural. Se bem, que convivendo 24x7 com algumas delas, podemos mudar muito nossos hábitos. Certeza que ainda encontraremos muitas mais, mas vão aqui algumas esquisitices holandesas pra vocês:

- Se você aluga o apartamento não-mobiliado, prepare-se para encontra-lo sem nada mesmo. Nem piso! Sério, o pessoal sai e leva seu piso embora, você que traga seu próprio! Fico imaginando o que o cara faz com o piso depois... sim porque nem sempre dá pra reaproveitar. Ô povo muquirana!

- Aliás, se for alugar um semi mobiliado, a diferença é que vem com piso, soquetes sem lâmpadas e cortina. E olhe lá! Se bem que aparelhos de cozinha, todos tem, até os não-mobiliados... vem sem piso, mas com geladeira.

- Por falar em cortina, são gêneros de primeira necessidade. As janelas não possuem persianas, de jeito nenhum. Agora que o verão está chegando, então, uma maravilha: antes das 6 da matina é o solzão entrando pela janela e fica assim até quase 22h. Mas, se tudo der certo, teremos nossas cortinas instaladas no fim de semana.

- Pra fazer suas cortinas, compre os tecidos na feira. Sim, feira! Aqui, até vendem um peixinho e uns legumes, mas feira é pra comprar tecidos, roupas, bolsas, malas de viagem...

- Almoço é uma coisa que não existe aqui. No máximo, comem um sanduba e nem param de trabalhar; é em cima do computador mesmo. E como o pessoal é muquirana, ainda traz o sanduíche de casa. Marmitão total. Refeitório? Tíquete refeição? Microondas? Magina....

- Já que não almoçam, também não precisam escovar os dentes. Acho que os dentistas daqui brigam com as crianças pra escovarem os dentes 2 vezes ao dia.

- O holandês é econômico até pra fazer elevador. Apesar do prédio ter 28 andares, o elevador só tem 10 botões:
Agora, nos digam: como fazer pra chegar no subsolo?

- Leite no café da manhã, no "almoço" e no jantar. Aliás, a qualquer hora do dia e com qualquer coisa. A conclusão é que holandês, se não está bebendo cerveja, está bebendo leite, mesmo.

- Jogar lixo de casa fora não é coisa simples assim: você precisa de um cartão, que se pede na Prefeitura, que serve para abrir as lixeiras. A pergunta é pra que cartão? Não posso simplesmente jogar o lixo na lixeira e boa?

- Roupa de cama aqui é só a capa do edredon e as fronhas. Lençol de baixo - aquele com elásticos - é vendido à parte e o lençol de cima, simplesmente não existe. Em outras palavras, você é obrigado a dormir de edredon, mesmo se tiver o maior calor.

Claro que nem tudo são problemas, tem as esquisitices do bem, aquelas pequenas coisas geniais que melhoram muito a vida do ser humano. Mas, aí é assunto pra outro post...

Um abraço e 3 beijinhos a todos (sim, aqui se cumprimenta com 3 beijinhos...).




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06 maio 2011

O Mercado... O Terror!

Fazer mercado no exterior é uma farra. Pelo menos quando estamos só a turismo, vamos pra comprar salgadinho, cerveja e dar risada das coisas. Lembro no Reveillon em Barbados, que o pessoal comprou um refri chamado Busta; todo mundo rindo... e, se quiserem saber, sim, era uma bosta, mesmo!

Mas vai fazer compra "normal" num lugar onde você entende lhufas! Sério, dá pra sentir como é a vida de um analfabeto. Nem tudo dá pra comprar só "vendo as figuras" como se fosse gibi da Mônica.

Pra começar, aqui você tem que saber onde estão os senhores Albert Heijn e Jan Linders. O Alberto e o João são apenas os mercados locais... claro, tem o Makro (que é daqui, sabia?), mas não vá lá sem cartão, pra não bater com a cara na catraca, coisa que acontece com todo mundo e nem deveríamos comentar aqui.

Você chega na seção de carne, vê uma carninha moída e no rótulo escrito "Vakens". Dá até pra desconfiar, tá muito fácil... e realmente, tem pegadinha: Vakens não é aquela vaquinha holandesa, é porco. Sim, tem lugar onde ralam porco.

E pra comprar mostarda? A França é aqui do lado e lá fazem mostardas tão boas quanto picantes. Não tem aquela mostardinha Cica básica. Aí tem o rótulo com algo totalmente ininteligível, que pode muito bem estar escrito "mostarda picante pra cacete, só pra macho, mesmo" como "mostardinha sussa, que dá pra por na papinha da criança". Daí, véio, só arriscando! Aliás, não abrimos a mostarda, ainda.

Pior é chegar nas prateleiras refrigeradas e achar que tá comprando um Cream Cheese e chegar em casa, encontrar margarina! Pior, sendo que já tinha mandado uma Becel (globalização tem suas vantagens) pro carrinho!

Outra engraçada é comprar banana por unidade. No Brasil, vem em penca, nem contamos quantas tem e ver sujeito saindo com 1 (uma) banana no carrinho é patético. Pelo menos é o que pensamos até ver quanto custa uma mera banana aqui...

Fora os produtos que nem imaginamos existir: azeite de nozes, leite especial para misturar com café, cenouras em conserva, sabão de lava-pratos com secante junto (um lixo, não caiam nessa!), enfim... descobriremos mais ao longo do caminho...

Outras dicas:

- Tenha sempre uma moeda de 1 euro pra liberar os carrinhos. Ou jogue uma conversa na caixa que ela te dá um chaveiro do mercado no mesmo formato da moeda.

- Compre um carrinho de feira, pois os caras cobram pela sacolinha do mercado.

- Embale sempre suas compras MUITO rápido, senão um Flying Dutchman te atropela.

- Tenha dinheiro no bolso, porque no mercado não aceitam cartão de crédito e nosso cartão de débito brazuca não passa aqui.

05 maio 2011

Eindhoven: Dia 3

Terminando o terceiro dia na terra dos tamancos e acho que já dá pra fazer uns comentários esparsos:

- Primeiro alimento ingerido em Eindhoven não poderia deixar de ser uma La Trappe, cerveja trapista feita em um mosteiro a 30km daqui:

- Já a primeira refeição foi um croquete com fritas, que eles juram que é típico daqui, mas que já comi igual na Casa do Alemão, no Rio.

- A bicicleta é o principal meio de transporte da cidade e tem ciclovia em todas as ruas, inclusive os ciclistas tem prioridade até sobre o pedestre. Até aí, beleza. Só não me conformo que lambretas e scooters trafeguem na ciclovia como se fossem uma mobilete. E sem capacete. Fico imaginando um motoboy paulistano que já barbariza na Marginal se viesse pra cá.

- Mas é legal ver que os caras fazem tudo de bike: levam compras, carregam filhos, passeiam com o cachorro, vão pro trabalho e às vezes tudo isso ao mesmo tempo. Anos de prática.

- Uma coisa fantástica aqui é o tal do Media Markt. São 4 andares gigantes com tudo que existe de eletro-eletrônico. De joguinho de Wii a cafeteira, de cabo coaxial a iPad, de fones de ouvido a som automotivo. O melhor são os cestões com liquidações de câmeras, filmadoras, GPS, celular, tudo amontoado como se fosse promoção de paçoca no Extra. Sensacional!

- Toda terça tem feira aqui do lado. Apesar de ter mais roupa, tecidos, bolsas, etc do que comida mesmo pra vender, vale à pena, nem que seja pra bater um peixe frito, a versão deles do pastel de feira.

- As lojas de variedades como a Hema e a Blokker são de variedades, mesmo. Soutien ao lado de martelo, enfeite de bolo ao lado de xícara de café... uma festa.

- Hoje entregaram a TV e a secadora. Horário marcado: 9:00h. Chegaram: 8:57h. Quase igual o Submarino.

- Ainda não me acostumei com os banheiros. Aqui, a parte de banho é uma coisa e a privada é outra, ou seja, temos um banheiro com pia, banheira e chuveiro. Depois um lavabo com privada e pia. O problema é acordar com aquele sono, ir jogar uma água no rosto e a privada não estar do lado para aquele xixizinho matinal. Qualquer dia acabo mijando na banheira.