24 abril 2012

Roteiro Trapista (2, 3 e 4/7)


Demoramos tanto pra atualizar nossa busca pelas 7 cervejarias trapistas que vamos encavalar 3 num só post: Achel, Westmalle e Orval.


2- Achel           

Bom, Achel já fomos há um tempão, quando o Renato e a Débora estiveram aqui, setembro passado. No post sobre a La Trappe, não sei se notaram, mas lá escrevi que aquela é a única trapista que fica totalmente na Holanda. Sim, porque a Achel fica exatamente sobre a fronteira da Holanda e da Bélgica, aliás, exatamente no ponto onde a Bélgica é mais próxima daqui de casa: exatos 18km. Engraçado, em São Paulo, morava perto do Aeroporto e trabalhava na Marginal Tietê, 22km de distância. Aqui, menos que isso, estamos em outro país.
A Bélgica é logo ali...

Voltando, essa localização da Sint Benedictus Abdij (Achel é a cidade onde fica a Abadia) traz uma história interessante. A produção de cerveja lá remonta ao século XVII, mas a Abadia foi destruída na época da Revolução Francesa. No século XIX, monges de Westmalle reconstruíram a Abadia e em 1852 retomaram a produção cervejeira. Em 1871, tornou-se uma Abadia Trapista, com produção regular.

Os fundos da Abadia, que não está aberta a visitação

A parte interessante foi em 1914, durante a 1ª Guerra Mundial. Os alemães invadiram o mosteiro, durante a ocupação da Bélgica. Porém, não foi feito saque dos suprimentos, uma vez que os monges colocaram tudo do lado holandês da Abadia. A Holanda era neutra na Guerra e diz a lenda que os soldados alemães respeitaram a neutralidade. Mas, uma parte importante da estrutura não podia ser movida: os tanques de fermentação. Dessa forma, em 1917, os alemães levaram embora cerca de 700kg de cobre dos tanques, que virariam armas e munições germânicas.
A entrada da loja

Após a Guerra, o mosteiro retomou as atividades, mas não voltou a fabricar cerveja até 1998, quando contaram novamente com a ajuda de monges vindos de Westmalle e Rochefort para retomarem a produção. Dessa forma, em 2001, a caçula das trapistas chegou ao mercado.

Hoje, a Abadia produz dois tipos básicos de cerveja: a Blonde e a Bruin (em holandês, lê-se Brown, igual inglês), uma clara, outra escura, ambas com 8o. Uma versão draft das duas é feita e vendida no bar da Abadia, essas com 5o. Ambas são as clássicas cervejas tipo Abadia, no caso, Dubbel (Bruin) e Tripel (Blonde), que são os tipos que você mais verá por aqui. A Dubbel é uma cerveja de dupla fermentação, a mais tradicional. A Tripel tem mais adição de lúpulo e é mais frutada. Outra versão especial é a Blonde Extra, que é a Tripel, mas com 9,5o e só em garrafa de 750ml.
Um dos salões do café, não exatamente cheio.

Sobre a Abadia, em si, temos um bar bem amplo, mas longe de ser o que esperamos de uma cervejaria. Por incrível que pareça, as estrelas lá parecem ser os doces e tortas feitas pelos monges e que acabam sendo devoradas com singelos chás e cafés pela terceira idade que lá vai em peso. Mas, claro que vale a pena parar pra experimentar as versões “van der vat”, ou seja, na pressão. Como disse, são mais fracas e podem ser acompanhadas por uma pequena variedade de acepipes como pão com queijo, pão com presunto e os onipresentes bitterballen, bolinhos de carne, que são a sugestão.

A Abadia é também um popular destino pra quem quer passear de bicicleta pelo campo, com paisagens bem bonitas em volta. Talvez por isso o pessoal pare tanto pra um docinho.
Roteiro pra passear pelos arredores

Mas, a grande estrela é a lojinha da Abadia. Parece um mercadinho do interior, inclusive na entrada, você vê sabão em pó, amaciante, essas coisas. Depois, vê vários produtos trapistas de vários cantos, como geléias, queijos e vinhos. Aí sim, depois vem um grande mercado de cerveja. Cervejas belgas de vários cantos, que nada ficam a dever às grandes lojas de Bruxelas, Antuérpia ou Bruges. Uma seleção bem grande, com preços muito bons e, inclusive, uma boa variedade de copos está à venda.
O Lodjinha...

Também há uma hospedaria aberta a visitantes, mas não pense que você vai se hospedar lá pra ficar cachaçando. É uma abadia, caramba! O pessoal se hospeda lá pra rezar e meditar com os monges, não pra fazer orgias cervejísticas.


3- Westmalle

Junto com Rochefort é a mais tradicional cervejaria trapista e a mais influente. Foi em Westmalle que se definiu o tipo de cerveja Dubbel, que é considerada a Trapista clássica, no ano de 1856. Muitas das cervejarias trapistas contaram com consultorias de monges de Westmalle para montar suas próprias cervejas.

Oficialmente chamada de Abdij Onze-Lieve-Vrouw van het Heilig Hart van Jezus (Abadia de Nossa Senhora do Sagrado Coração de Jesus), fica próxima a Antuérpia, na cidade de – adivinhem? – Westmalle que, aliás, fica a oeste de Malle. Sério. Mas, infelizmente não há muito o que ver lá. A abadia é fechada à visitação e apenas sobra o Café Trappisten, que fica do outro lado da estrada. O Café, em si, não tem nada de mais. É um restaurantão cheio de mesas que contava com uma média de idade pra lá de avançada. Esses velhinhos... sempre atrás de uma cervejinha!
 Marcando presença

Não tem lojinha propriamente dita, apenas alguns produtos em cima do balcão que você pode chegar lá e comprar. Além de cerveja e copos, alguns livros e especialidades trapistas (geléias, biscoitinhos,...). A não ser que você tenha muito tempo ou tenha feito promessa de conhecer todas as cervejarias trapistas, infelizmente, não recomendamos a visita.
 O Café Trappisten, pronto pro Natal

Sobre as cervejas, temos aqui os mesmos tipos da Achel, claramente de influência Westmallense: Dubbel (escura) e Tripel (clara).



4- Orval

Se Achel fica na fronteira da Bélgica com a Holanda, Orval fica bem na fronteira da Bélgica com a França. E é das mais antigas. As primeiras comunidades monásticas datam de 1070 na região, quando nem Portugal existia, e a primeira igreja é fundada em 1124. Durante os séculos, Orval foi destruída e reconstruída algumas vezes. Em 1252 foi destruída pelo fogo e refeita 100 anos depois. Durante a Guerra dos Trinta Anos, Orval é novamente posta abaixo, no ano de 1637. No século XVII é reconstruída e vira uma comunidade Trapista. Por fim, durante a Revolução Francesa, por conta de terem dado guarida a tropas austríacas, o pessoal queimou tudo novamente, em 1793.
 Como era a Abadia antes dos franceses arrebentarem tudo

O bacana dessa história toda é que a catedral que existia antes da guilhotinagem, está lá, em ruínas. E são ruínas fantásticas, dá pra visitar tudo, passando por uns jardins com estátuas e até um museu que conta a história da abadia. Também tem uma sala com um filme sobre a cervejaria em exibição, mas estávamos sem tempo para ele, pois passamos lá voltando da França e era tarde.
A Abadia nova e as ruínas da antiga Catedral

Esta história de reconstruções é que levou, em 1931, a Abadia a montar sua cervejaria, pois estava atrás de fundos para continuar as obras. Apesar de haver registros de produção de cerveja no local desde o século XVI, tudo foi destruído pelas tropas francesas.
Mais ruínas

Orval vale uma visita, pois é um lugar lindíssimo, mesmo pra quem não está nem aí pra cervejas. Pena que é um lugar fora de mão, longe das rotas turísticas, o que dificulta pra quem tem pouco tempo de Bélgica. 
Agora, ruínas com neve!

Também falta  um café ou um bar pra completar a experiência. Pra  relaxar tomando um produto da abadia local, tem que se valer de algum dos pequenos bares na vila de Orval, próximos à Abadia. Ao menos, há uma lojinha que vende cervejas, copos, queijos, chás e outros produtos trapistas.
A entrada do museu... creepy...

Os monges de lá só fabricam uma variedade de cerveja, a típica Abadia, mais amarga e com mais lúpulo que suas irmãs. Tirando as Westvleteren, que só provei uma e uma vez, é minha favorita entre as trapistas. Mas, gosto é que nem bunda, cada um tem a sua, certo?
 That's all Folks!!!

Seguimos em busca das três restantes: Rochefort, Chimay e Westvleteren!