Demoramos
tanto pra atualizar nossa busca pelas 7 cervejarias trapistas que vamos
encavalar 3 num só post: Achel, Westmalle e Orval.
2- Achel
Bom, Achel
já fomos há um tempão, quando o Renato e a Débora estiveram aqui, setembro
passado. No post sobre a La Trappe, não sei se notaram, mas lá escrevi que
aquela é a única trapista que fica totalmente na Holanda. Sim, porque a Achel
fica exatamente sobre a fronteira da Holanda e da Bélgica, aliás, exatamente no
ponto onde a Bélgica é mais próxima daqui de casa: exatos 18km. Engraçado, em
São Paulo, morava perto do Aeroporto e trabalhava na Marginal Tietê, 22km de
distância. Aqui, menos que isso, estamos em outro país.
Voltando,
essa localização da Sint Benedictus Abdij (Achel é a cidade onde fica a Abadia)
traz uma história interessante. A produção de cerveja lá remonta ao século
XVII, mas a Abadia foi destruída na época da Revolução Francesa. No século XIX,
monges de Westmalle reconstruíram a Abadia e em 1852 retomaram a produção
cervejeira. Em 1871, tornou-se uma Abadia Trapista, com produção regular.
Os fundos da Abadia, que não está aberta a visitação
A entrada da loja
Após a
Guerra, o mosteiro retomou as atividades, mas não voltou a fabricar cerveja até
1998, quando contaram novamente com a ajuda de monges vindos de Westmalle e
Rochefort para retomarem a produção. Dessa forma, em 2001, a caçula das
trapistas chegou ao mercado.
Hoje, a
Abadia produz dois tipos básicos de cerveja: a Blonde e a Bruin (em holandês,
lê-se Brown, igual inglês), uma clara, outra escura, ambas com 8o.
Uma versão draft das duas é feita e vendida no bar da Abadia, essas com 5o.
Ambas são as clássicas cervejas tipo Abadia, no caso, Dubbel (Bruin) e Tripel
(Blonde), que são os tipos que você mais verá por aqui. A Dubbel é uma cerveja
de dupla fermentação, a mais tradicional. A Tripel tem mais adição de lúpulo e
é mais frutada. Outra versão especial é a Blonde Extra, que é a Tripel, mas com
9,5o e só em garrafa de 750ml.
Um dos salões do café, não exatamente cheio.
Sobre a
Abadia, em si, temos um bar bem amplo, mas longe de ser o que esperamos de uma
cervejaria. Por incrível que pareça, as estrelas lá parecem ser os doces e
tortas feitas pelos monges e que acabam sendo devoradas com singelos chás e cafés
pela terceira idade que lá vai em peso. Mas, claro que vale a pena parar pra
experimentar as versões “van der vat”, ou seja, na pressão. Como disse, são
mais fracas e podem ser acompanhadas por uma pequena variedade de acepipes como
pão com queijo, pão com presunto e os onipresentes bitterballen, bolinhos de carne, que são a sugestão.
A Abadia é
também um popular destino pra quem quer passear de bicicleta pelo campo, com
paisagens bem bonitas em volta. Talvez por isso o pessoal pare tanto pra um
docinho.
Roteiro pra passear pelos arredores
Mas, a
grande estrela é a lojinha da Abadia. Parece um mercadinho do interior,
inclusive na entrada, você vê sabão em pó, amaciante, essas coisas. Depois, vê
vários produtos trapistas de vários cantos, como geléias, queijos e vinhos. Aí
sim, depois vem um grande mercado de cerveja. Cervejas belgas de vários cantos,
que nada ficam a dever às grandes lojas de Bruxelas, Antuérpia ou Bruges. Uma
seleção bem grande, com preços muito bons e, inclusive, uma boa variedade de
copos está à venda.
O Lodjinha...
Também há
uma hospedaria aberta a visitantes, mas não pense que você vai se hospedar lá
pra ficar cachaçando. É uma abadia, caramba! O pessoal se hospeda lá pra rezar
e meditar com os monges, não pra fazer orgias cervejísticas.
3-
Westmalle
Junto com
Rochefort é a mais tradicional cervejaria trapista e a mais influente. Foi em
Westmalle que se definiu o tipo de cerveja Dubbel, que é considerada a Trapista
clássica, no ano de 1856. Muitas das cervejarias trapistas contaram com
consultorias de monges de Westmalle para montar suas próprias cervejas.
Oficialmente
chamada de Abdij Onze-Lieve-Vrouw van het Heilig Hart van Jezus (Abadia de
Nossa Senhora do Sagrado Coração de Jesus), fica próxima a Antuérpia, na cidade
de – adivinhem? – Westmalle que, aliás, fica a oeste de Malle. Sério. Mas,
infelizmente não há muito o que ver lá. A abadia é fechada à visitação e apenas
sobra o Café Trappisten, que fica do outro lado da estrada. O Café, em si, não
tem nada de mais. É um restaurantão cheio de mesas que contava com uma média de
idade pra lá de avançada. Esses velhinhos... sempre atrás de uma cervejinha!
Marcando presença
Não tem
lojinha propriamente dita, apenas alguns produtos em cima do balcão que você
pode chegar lá e comprar. Além de cerveja e copos, alguns livros e
especialidades trapistas (geléias, biscoitinhos,...). A não ser que você tenha
muito tempo ou tenha feito promessa de conhecer todas as cervejarias trapistas,
infelizmente, não recomendamos a visita.
O Café Trappisten, pronto pro Natal
Sobre as
cervejas, temos aqui os mesmos tipos da Achel, claramente de influência
Westmallense: Dubbel (escura) e Tripel (clara).
4- Orval
Se Achel
fica na fronteira da Bélgica com a Holanda, Orval fica bem na fronteira da
Bélgica com a França. E é das mais antigas. As primeiras comunidades monásticas
datam de 1070 na região, quando nem Portugal existia, e a primeira igreja é
fundada em 1124. Durante os séculos, Orval foi destruída e reconstruída algumas
vezes. Em 1252 foi destruída pelo fogo e refeita 100 anos depois. Durante a
Guerra dos Trinta Anos, Orval é novamente posta abaixo, no ano de 1637. No
século XVII é reconstruída e vira uma comunidade Trapista. Por fim, durante a
Revolução Francesa, por conta de terem dado guarida a tropas austríacas, o
pessoal queimou tudo novamente, em 1793.
Como era a Abadia antes dos franceses arrebentarem tudo
O bacana
dessa história toda é que a catedral que existia antes da guilhotinagem, está
lá, em ruínas. E são ruínas fantásticas, dá pra visitar tudo, passando por uns jardins com estátuas e até um museu que conta a história da abadia. Também tem
uma sala com um filme sobre a cervejaria em exibição, mas estávamos sem tempo
para ele, pois passamos lá voltando da França e era tarde.
A Abadia nova e as ruínas da antiga Catedral
Esta
história de reconstruções é que levou, em 1931, a Abadia a montar sua
cervejaria, pois estava atrás de fundos para continuar as obras. Apesar de
haver registros de produção de cerveja no local desde o século XVI, tudo foi
destruído pelas tropas francesas.
Mais ruínas
Orval vale
uma visita, pois é um lugar lindíssimo, mesmo pra quem não está nem aí pra
cervejas. Pena que é um lugar fora de mão, longe das rotas turísticas, o que
dificulta pra quem tem pouco tempo de Bélgica.
Agora, ruínas com neve!
Também falta um café ou um bar pra completar a experiência.
Pra relaxar tomando um produto da abadia
local, tem que se valer de algum dos pequenos bares na vila de Orval, próximos
à Abadia. Ao menos, há uma lojinha que vende cervejas, copos, queijos, chás e
outros produtos trapistas.
A entrada do museu... creepy...
Os monges
de lá só fabricam uma variedade de cerveja, a típica Abadia, mais amarga e com
mais lúpulo que suas irmãs. Tirando as Westvleteren, que só provei uma e uma
vez, é minha favorita entre as trapistas. Mas, gosto é que nem bunda, cada um
tem a sua, certo?
That's all Folks!!!
Seguimos em
busca das três restantes: Rochefort, Chimay e Westvleteren!