08 dezembro 2012

Roteiro Trapista - Resumo Final

Bom, depois de tanta coisa, vamos fazer um resumo geral do que aconteceu. Primeiro, só alguns detalhes sobre abadias que foram revisitadas e que gostaríamos de atualizar:


La Trappe

Como é uma que fica pertinho e tem um ótimo restaurante, quase toda visita que vem aqui, levamos lá, de forma que sempre tem coisa nova.

Primeiro, tínhamos falado que almoçar mesmo lá que não valeria muito a pena. Esquece: a comida é muito boa e os preços bem razoáveis, na casa dos € 12 a € 15 por prato. A sugestão é o cozido flamengo (Flemish Stew), um picadinho feito na cerveja e servido com fritas. Aliás, todos os pratos vêm com sugestão de melhor harmonização com cerveja.

Os Jardins de La Trappe, pelo menos, o comecinho

Sobre as cervejas produzidas lá, duas novidades: as conhecidas Isid’Or e Quadrupel possuem versões Oak Aged, como o nome diz, envelhecidas em barris de carvalho, no caso, antigos barris de destilaria de whisky, que deixam a cerveja com um aroma mais defumado e um gosto muito diferente. São carinhas (€ 9,50 a garrafa pequena), mas vale uma tentativa. Das duas, preferi a Isid’Or.

A igreja de La Trappe. Foi bombardeada na 2a Guerra, pois a abadia foi palco de uma batalha da Op. Market Garden

Por fim, essa foi sem querer, quando nossa amiga Clara nos visitou no começo de setembro. Entre final de agosto e começo de setembro, várias atrações turísticas na Holanda fazem um “Open Day” e permitem visitas a lugares normalmente restritos. E foi o que aconteceu, na sorte total, os jardins estavam abertos pra visitação.

O monge guia

Assim, nada do outro mundo, mas é interessante. A visita era guiada por um dos monges de La Trappe e em holandês, mas conseguíamos ajuda de outros visitantes, que traduziam pra gente. A parte mais interessante era do cemitério dos monges que fica em um canto do terreno que era uma fronteira tripla de municípios, de forma que tinha monge enterrado em 3 cidades diferentes, o que dava dor de cabeça pra eles. Precisaram mudar as divisas em alguns metros pra acertar tudo.

Parte do descanso final dos monges

O lado ruim é que estava lotado e com espera pra conseguir uma mesa; refeição, nem pensar. Muita gente que só queria uma cervejinha acabava tomando no gramado, mesmo.


Orval

Voltamos a Orval no dia que passamos por Chimay e Rochefort e por dois motivos: não visitamos a parte de exposição da primeira vez, por falta de tempo, e a Carol precisava comprar mais da melhor geleia que já comeu. Infelizmente, a geleia não tinha mais.


Inverno...
Foi interessante pra ver no verão aquilo que só vimos no inverno, passar com mais calma pelo pequeno museu da história de Orval (lembre-se, eles estão lá há quase 1000 anos, entre destruições e reconstruções).

Verão...
E, claro, passamos pela pequena exposição que há onde contam um pouco sobre fabricação de cerveja, sobre a história da cervejaria, umas partes multimídia e aquelas coisas que mais ou menos tem em outros lugares. Simples, mas bem feitinho. Enfim, a estrela da visita continua sendo as ruínas da antiga catedral.

Pessoa se divertindo nas telinhas (notaram que é um tanque de fermentação?)
Mas, há novidades! Lembra que falamos que não havia bar / restaurante lá? Então, agora tem! Na verdade, quando fomos da primeira vez, ele já existia, mas estava fechado. O À l’Ange Gardien fica fora da abadia, uns 200m antes de chegar. Não é tão charmoso quanto os de La Trappe ou Chimay, mas completa a visita, sem dúvidas.

A foto não é nossa, mas o bar é esse.

Roteiro Ideal

E pra quem quer fazer essa visita, quais as recomendações? Bom, vamos tentar dar umas dicas rápidas para você montar seu roteiro:

1-      Pode cortar duas abadias: Westmalle e Rochefort. A não ser que tenha feito promessa a São Benedito de passar pelas 7, Westmalle só tem um restaurante bem sem graça e Rochefort, nem isso.

2-      Para as 5 restantes, por uma questão de distância e horário (não quer visitar uma cervejaria trapista às 9h da manhã, certo?), a sugestão é demorar 3 dias, afinal, são 750km no total, dando a volta na Bélgica.

É um certo rolê, sim.
3-      Tem que ser de carro. Muitas abadias estão em cidades que não tem trem e todas estão fora do centro, provavelmente sem transporte público.

4-      Saindo de Bruges, por exemplo, Westvleteren fica a 70km de distância. Uma passada pelo ótimo In De Vrede, saborear a Blonde, a 8 e a 12 in loco. Pro mesmo dia, o que falamos no post anterior, emende uma visita à cidadezinha de Ieper (Yprés) para um ótimo tour sobre 1ª Guerra. O centrinho também é bem bacana. De noitinha, parta pra Chimay: 180km.

Antigas Orvais

5-      No segundo dia, faça Chimay e Orval. Comece por Chimay, pois dá pra aproveitar a manhã conhecendo a cidade e com tempo de chegar para a missa cantada pelos monges, das 11h às 12h. Saindo de lá, visita e almoço no Auberge de Poteaupré. Próxima parada, Orval, a 116km. Cuidado com os horários de visita, pois Orval tem bastante o que ver, mas dá tempo de ainda terminar com uma cervejinha de fim de tarde por lá. Daí, a maior estirada da viagem: 240km pra Achel.

Não é dentro de Orval, mas é do lado

6-      Em Achel, aproveite pra fazer boas compras de cervejas (uma das melhores lojas do país), tomar uma cervejinha apenas e deixe pra almoçar na La Trappe, já na Holanda. São apenas 56km entre as duas. Se quiser terminar em uma cidade turística, de Tilburg (onde fica a La Trappe) até Antuérpia, são 74km.

No final do tour, a iluminação divina em La Trappe


Como assim, 10 trapistas?

Todo esse tempo estamos aqui falando das 7 trapistas pra cá, 7 trapistas pra lá, mas o mundo gira. Se eram 7 no início da brincadeira, hoje já são 8 as cervejarias trapistas oficiais.

Desde 1º de agosto último está no mercado a Gregorius, uma Tripel com 9,7% de graduação alcoólica, fabricada na abadia de Engelszell, na Áustria, fronteira com a Alemanha. A cidade é bem fora de mão, de forma que não vamos prometer uma visita, OK? Se estivermos de bobeira na região, pode ser.

Logo depois, veio a Benno, uma Dubbel clara, de 7%, o segundo produto dos monges austríacos e assim como a Gregorius, nomeada em homenagem a um antigo prior da abadia. Por enquanto, ambas só são vendidas no local e na loja virtual, mas já anunciaram que exportarão até pros EUA.

Plantação de lúpulo na La Trappe

Tem outra cerveja, a caminho de ser a nona trapista. A Mont des Cats é feita pela abadia de mesmo nome, localizada bem no norte da França, numa região chamada Flandres Francesa, cuja língua oficial é o flamengo, pertinho de Westvleteren, meros 22km.

A cerveja já é feita, já está no mercado, a abadia de Mont des Cats é trapista, membro da International Trappist Association, carrega no rótulo o nome de Bière Trappiste e o responsável pela sua confecção é um monge. O que falta para ser oficialmente trapista?

Devidamente degustada, numa taça emprestada da sua irmã Rochefort

Bem, ela não é fabricada dentro da abadia. Mont des Cats deixou de ter uma cervejaria no início do século XX quando o monge cervejeiro morreu e ela é fabricada em outra abadia trapista, Chimay. Dizem até que ela lembra muito a Chimay Dubbel, mas sei lá, não tem uma Chimay aqui pra comparar. A Mont des Cats só levará o selo de Authentic Trappist Product quando for feita dentro da própria abadia, mas ainda não há planos para tanto.

Oito, nove, e a décima? A décima ainda está no campo dos boatos, mas a Abadia de Maria Toevlucht, na cidade de Zundert, sul da Holanda – aliás, já notaram que todas as abadias ficam perto de fronteira?  – tornou-se membro da ITA no início de 2012 anunciando que investiria na montagem de uma cervejaria dentro de suas paredes.

As primeiras notícias davam conta que estaria no mercado no fim desse ano, mas até agora, nada.


Avaliação Final

Não poderíamos terminar essa aventura sem uma avaliação, certo? Então, decidimos alguns critérios e demos notas para cada uma das 7 cervejarias, com a favorita em cada um e as notas para chegar à melhor. Vamos lá:

- Bar: empate entre La Trappe e Chimay, ambos em lugares bem agradáveis, com ótima comida, degustação de cerveja e que valem a visita.

- Loja: não é a mais bonitinha, não é a mais arrumada, pelo contrário, parece um mercadinho de interior, com direito a carrinho de compras e prateleiras com sabão em pó. Mas, estamos falando de cerveja aqui e nos fundos do mercadinho de Achel esconde quase que um galpão com mais de 100 rótulos de cerveja à venda, além dos copos de quase todas. E o melhor: preços bem camaradas.

Brincando de cervejeiro na visita de Orval

- Visita: considerando atrações, tour e tudo que você pode visitar, Orval ganha mesmo sem ter um tour organizado como La Trappe.

- Local: considerando aqui, a beleza e todo o entorno, mais um ponto para Orval e suas ruínas imbatíveis.

Uma geral de Orval
- Cerveja: afinal, viemos aqui pra quê? E a votação ficou difícil, com um tríplice empate. Minha favorita, individualmente, é a Orval. A Westvleteren classifica junto por fazer duas cervejas tão diferentes e tão especiais como a 8 e a 12. Completando a lista, vamos pela quantidade: a La Trappe fazer 10 cervejas diferentes, incluindo a sensacional Isid’Or Oak Aged, que não fica a dever pra nenhuma.


Bar
Loja
Visita
Local
Cerveja
Média
Achel
3
5
0
3
3
         2,8
Chimay
5
3
4
4
4
         4,0
La Trappe
5
4
4
4
5
         4,4
Orval
4
3
5
5
5
         4,4
Rochefort
0
0
0
1
4
         1,0
Westmalle
3
2
0
1
4
         2,0
Westvleteren
4
3
0
3
5
         3,0

Claro que temos mais um empate! Afinal, temos que ter assunto pra discutir na mesa do bar, né?

Bom, o capítulo trapista encerra por aqui, pelo menos por enquanto... tot ziens!