Bom, se você é um atento leitor, lembra que colocamos pra nós
mesmos o objetivo de fazer todas as cervejarias trapistas em 1 ano. Fizemos em
pouco mais de um ano, mas contou pro bônus. Completamos o périplo em julho
passado, mas com o Blog abandonado, o registro só vem agora. Pegamos um fim de
semana e demos, literalmente, uma volta pela Bélgica para fechar os 3 mosteiros
restantes e, de quebra, ainda fazer uma revisita a Orval.
Mas, vamos deixar os updates de abadias passadas para o wrap
up que virá em seguida, afinal, temos novos desafios adiante. Por ora, vamos
terminar o que começamos e reportar o final do Tour Trapista.
5- Westvleteren
Por muitos, considerada o Santo Graal das cervejas
trapistas. A mais exclusiva, mais difícil de achar e a mais reverenciada, não
apenas entre as trapistas, mas não seria exagero dizer que entre todas as
cervejas belgas.
A Entrada de Westvleteren
E tudo isso, tem um motivo: ao contrário de suas irmãs,
Westvleteren escolheu permanecer uma pequena cervejaria trapista, sem a
intenção de ganhar mercados no mundo todo. Os monges produzem apenas a
quantidade que julgam necessária para manter seu mosteiro e nem uma gota a
mais.
Mas, não é só isso: o único lugar que as Westvleteren Blonde,
8 e 12 são vendidas oficialmente é na própria abadia. E não é fácil, mesmo
assim. Tem que ligar lá, nos horários que falam no site, normalmente por uma
hora na manhã de segunda feira e outra na manhã de terça. O próprio site fala
que é difícil conseguir, de forma que gastei meu dedo e nada.
Westvleteren 12 e Blonde prontas pro abate
Se conseguir ligar, você faz a reserva, mas não da cerveja
que você quer, tem que ser do que tem e dê-se por satisfeito. Você passa a
placa do seu carro e marca o dia para buscar as cervejas, normalmente no sábado
seguinte. Eles controlam a venda pela placa do carro e você pode levar apenas
dois engradados por vez e o mesmo carro só pode voltar lá após 2 meses.
Além disso, você se compromete com os monges que a cerveja é
para consumo próprio e que não será revendida. Pra sua sorte, alguns lojistas
demoníacos e inescrupulosos fazem toda essa via crucis por você e vendem essas
preciosidades em lojas de cervejas pela Bélgica e Holanda. Mas, ir pro inferno tem
seu preço: uma garrafinha comprada por € 1,20 in loco passa a valer quase 10
vezes mais nesses antros de pecadores.
Outra opção, como fizemos, é degusta-la no café In De Vrede,
que significa literalmente “Na Paz” em holandês, logo na frente da abadia. Com
uma bela vista dos campos de cevada que um dia estarão dentro do mesmo copo que
você segura, bons pratos, uns bons sanduíches e Westvleterens “van het tap” que
podem te render um ótimo par de horas.
Vista do Café: soon... soon...
Por ser vendida oficialmente apenas na abadia e no Na Paz, outra
peculiaridade da Westvleteren é que ela não possui rótulo. Todas as informações
legais estão impressas na tampinha e, dada a falta de espaço, ela não consegue
ostentar o selo de Authentic Trappist Product.
Na saída, uma lojinha com bons produtos trapistas, de patês
a queijos (nunca deixe de levar um queijo numa abadia trapista. NUNCA!). Sempre
vendem uma cerveja lá e o kit varia de tempos em tempos. Eu levei dois kits com
um copo e 4 cervejas (2 Blonde, 1 de cada das outras) cada, por um preço bem mais
salgado que no roteiro normal, mas bem mais em conta que na De Bier Temple mais
perto de sua casa.
Sim, eu tenho! hehehe...
Westvleteren é um pouco fora de mão dos roteiros turísticos tradicionais, mas uma ótima sugestão é fazer o que fizemos: combinar a abadia
com um passeio a Ieper (ou Yprés, em francês), a apenas 15km de distância,
palco de algumas das mais sangrentas e heroicas batalhas da 1ª Guerra Mundial.
Além de uma cidade muito bacaninha, há diversos guias que te levam por trincheiras,
locais de batalhas e memoriais. Um passeio fantástico, mas falaremos dele num
outro dia.
6- Chimay
É a visita mais completa que você pode fazer nesse roteiro.
Começa pela agradável cidade de Chimay, que dá nome às cervejas. De todas desse
tour trapista, a que mais vale perder umas horinhas pra visitar seu centrinho.
Pena que não conseguimos visitar o castelo de Chimay, que estava fechado.
Numas das praças da cidade, um antigo tanque de fermentação de Chimay
Com relação à abadia, em si, que fica bem fora da cidade,
quase na fronteira com a França (tanto que a melhor hospedagem que achamos foi
na cidade francesa de Mauberges), são duas coisas diferentes.
Como era, anos e anos atrás...
Primeiro, a parte, digamos, monástica, onde fica a abadia, a
igreja, jardins lindíssimos e que podem ser visitados. Inclusive, das 11h às
12h dá pra presenciar uma linda missa cantada pelos monges beneditinos.
Chegamos nos últimos 15 minutos, mas já valeu a pena.
Na cidade, o pessoal sabe o que atrai a gente.
Voltando pela estradinha, uns 500m da abadia, fica o Espace
Chimay, o centro de visitação da cerveja. Chegando, você dá de frente com a
lojinha, que vende as cervejas, os – já sabe... – queijos e toda sorte de
acessórios; de copos ao meu atual chaveiro-abridor. Pra direita, uma rápida exposição,
toda modernosa, multimídia, com vídeos, objetos e demais coisas variando entre fabricação
de cerveja e a história de Chimay. Uma visita de meia horinha, bem bacana e
cujo ingresso ainda inclui uma cervejinha.
Um mundo de Chimay!
Pra esquerda, um agradabilíssimo restaurante, o Auberge de Ponteaupré, tanto na parte
interna quanto na externa, que é ideal para um dia ensolarado. Comida excelente
e todas as Chimay para seu deleite, incluindo um recipiente especial para
degustar pequenas doses de todas as Chimay.
O Menu Degustação.
Dentre os tipos, temos as famosas bleu, blanc et rouge e mais uma, a Dorée, uma cerveja ale bem leve (4,8%) que só é servida no
restaurante, não é vendida fora. Reza a lenda que essa é a cerveja de dia a dia
dos monges de Chimay.
Conhecida com Cinq Cents, a Blanc (chamada, em inglês, pelo
imaginativo nome de White) nada tem com a Wit Bier / Biére Blanche belga. Nada
mais é que uma Tripel, como muitas de suas irmãs. Ainda na tradição trapista de
ter também as Dubbel, a Chimay apresenta a vermelha (rouge) como Dubbel
tradicional e a Bleue (precisa dizer que
é a azul?) como a Dubbel “reserva”, refermentada na garrafa e com vários anos
de tempo de prateleira.
E aí? Vida chata?
Uma das visitas mais completas e agradáveis, onde não teve
aquela sensação de estar faltando algo.
7- Rochefort
Gostaria de ter mais o que falar sobre Rochefort, mas não vai
rolar. Já sabíamos que lá não existe nada pra ver, a abadia é fechada, não tem
bar, loja nem nada que possa interessar a um turista cervejeiro. Pra não falar
que não tem nada, dá pra entrar na igreja, mas garanto que não é nada que valha
se abalar a ir a Rochefort.
Heading to Rochefort in style...
Fomos apenas para falar que estivemos lá e porque não era muito
fora da rota entre Chimay e Orval. Mas, para demais visitantes não sou eu que
vou recomendar aqui.
Rochefort vista de fora
Degustamos belas Rochefort 6 e 10, essa tida por alguns como
a melhor cerveja fabricada neste planeta, num agradável bar perto do centro.
Também compramos um kit de copo e cerveja no Tourist Information da cidade, mas
apenas porque nosso pequeno objetivo deste tour era ter os 7 copos das
trapistas comprados no lugar. Pode parecer bobagem, mas deixa nóis, pô!
Aguardem o capítulo final dessa saga! Qual o melhor roteiro?
Updates das outras? Qual score final de cada uma? Como assim, 10 trapistas?