Voltamos da
HIBERNAÇÃO!!! Quem não esteve isolado em uma caverna no último mês viu que a
Europa passou por uma mega onda de frio. Também, pudera, antes dela estava
fazendo um “calor” de 5, 7, 10 graus que não é nem um pouco normal. Foi apenas
o segundo Natal da história que Eindhoven registrou temperatura de dois
dígitos. White Christmas, só nas vitrines das lojas.
Agora que
as coisas estão voltando ao normal, como foi nossa experiência naquilo que a
maioria dos brazucas teme na Europa, o Inverno?
Ice Age 1 –
The Big Freeze
A verdade é
que perdemos parte do grande frio que tomou conta do continente. Embarcamos pro
Brasil exatamente um dia antes da chegada da massa polar e escapamos por pouco
de ficar preso nos trens ou aeroportos holandeses. Mas, voltamos a tempo de
encarar a friaca e, olha só, já tínhamos marcado, sem saber, 5 dias em uma
estação de esqui na França. Se está no Inverno, abraça o boneco de neve...
Modelito preparado pro Esqui...
Mesmo a
Holanda sendo desprovida de montanhas, praticamos esqui indoor aqui em
Eindhoven pra treinar. É bem louco: uma esteira de uns 5m X 5m de tamanho,
feita com um carpete bem alto e molhado pra simular a neve. Liga a esteira e
você fica lá, fingindo que está nos Alpes. Pra aprender e treinar, é excelente.
Mas, era
hora da verdade e fomos levar nossas recém compradas botas de esqui pra
conhecer a neve. A localidade escolhida foi Geràrdmer, uma cidadezinha
francesa, na beira de um lago, na cadeia de montanha dos Vosges. Nem é tão
alta, a cidade está a 666m de altitude, a estação de esqui a 850m e o topo da
montanha, a 1110m. Saímos pro sul vendo uma estrada muito diferente da que nos
acostumamos, com neve pra todos os lados, tomando os pastos e plantações.
Depois de um Natal decepcionante, a certeza que o Inverno chegara.
Subindo...
Preparando pra descer...
Em
Geràrdmer desembarcamos às 21h, com os termômetros marcando -11oC.
Nos dias seguintes, pegamos, na rua ou na estação temperaturas de -15oC
e talvez menos. À noite, baixava pra até -23oC. Pior era ver a
“sensação térmica”, que batia em -27oC, por causa do vento. Aí, a
primeira questão: não é tudo igual, pegar -15oC ou 0oC? Não
é frio igual? Então... nem ferrando! A diferença é gigante.
Primeiro
que aquele esqueminha de 3 camadas que explicamos no post da Aurora Boreal, não
rola. Precisa de mais camadas, de uma sobrepele mais quentinha e de um casacão
porreta. Mesmo na perna, chegamos a encarar 3 camadas. O que aumenta também é a
sensação de “queimar” a pele com o vento, pior ainda esquiando, com o vento
batendo. Nesse caso, não dava pra deixar um cantinho de pele exposto. O tempo
que você consegue ficar na rua cai bastante e entrar numa loja ou bar a cada 20
ou 30 minutos, no máximo, é essencial. O calor do corpo parece que vai embora
instantaneamente.
Recuperando o calor perdido...
A cidade é
um pico turístico de inverno e verão, então tem muito hotel e restaurantes a
preços bem bacanas. Mas, é curioso que o forte dos turistas é francês mesmo, no
máximo, alemão. Não vimos quase nada fora disso por lá. Inclusive, no final de
semana a cidade dobrou de tamanho; é um destino popular para quem não está em
férias levar a molecada pra brincar na neve. Sim, é uma estação bastante
família, inclusive ver crianças de colo e mesmo pequenas forradas de casacos se
divertindo é estranho pra quem cresceu num país tropical onde os pais tem
receio de levar filhos pro frio. Aqui, a molecada enfrenta o frio como qualquer
um, se não fosse assim também, ficariam em casa.
Outra coisa
boa que vem com o frio são as paisagens: lagos congelados, montanhas nevadas,...
segue uma amostra do que vimos por lá.
Por do Sol na Estação de esqui.
O lago de Geràrdmer
Mais de perto, congelado...
Ainda bem que avisaram....
Juro que não fui eu que tentou ver a força do gelo.
Na beira do lago
Arte no córrego congelado
Tunelzinho na Estrada.
Quase feio....
Ice Age 2 –
Back to Home
Chegamos em
casa a tempo de curtir uns diazinho de frio e ver Eindhoven nevada. Nenhuma
grande neve, até porque, quando a temperatura cai demais fica mais difícil
nevar, pois a umidade do ar também despenca. Como uma boa cidade holandesa,
Eindhoven tem muitos lagos e canais e tudo congelou com esse frio polar que
fez. E os parques ficaram lotados, com famílias e mais famílias se esbaldando
no gelo.
Guardaram espaço pros patos.
Tivemos que
comprar uns patins, mas quase não conseguimos, pois parecia que furacões haviam
passado pelas lojas, com a holandesada arrebatando tudo que tivesse uma lâmina
na sola. Pior ainda que calçamos números comuns: 37 e 44 (equivalente ao 35 e
42 brasileiros) e nossos tamanhos foram os primeiros a sumir. Mas, missão
cumprida e partimos pros lagos. Primeira coisa estranha: fomos ao HTC, onde
fica a Philips, e tem um lagão enorme; chegando lá não sabíamos por onde entrar
pois tem grade. Mas, bem, a grade pára na beira do lago, então simplesmente
andamos por sobre as águas e varamos a segurança. Tá, pode parecer bobo, mas é
bizarro pra quem vem dos trópicos.
Geral do lago gelado
Espere
também encontrar tudo quanto é coisa sobre o gelo, desde os tradicionais trenós
onde os pais puxam seus pimpolhos, a cadeiras que crianças se divertem empurrando
umas às outras e até carrinhos de bebês, onde mães patinam empurrando futuros
esquimós.
A neve que
atrapalha um pouco, pois ela se acumula sobre o gelo e não é muito deslizável. Pra
isso, o pessoal leva aquelas pás de neves e ficam de lá pra cá, limpando o
gelo. Além das trilhas, abrem um espaços maiores pra brincarem de hóquei.
Meeeedo... hehehe...
Uma
expectativa que o país todo viveu nesses dias foi a realização da
Elfstedentocht, a Corrida das Onze Cidades. Acontece na Frísia, nortão da
Holanda quando lagos e canais congelam formando um circuito natural de 200km
entre essas cidades. É bem difícil de ocorrer, tanto que a última versão da
corrida foi em 1997 e apenas 15 ocorreram desde que começou em 1909. O maior
período sem a corrida foi de 22 anos, entre 1963 e 1985. Além de congelar tudo,
os organizadores exigem que haja uma camada de 15cm de gelo, pra agüentar os
estimados 16.000 patinadores. Pra dar uma idéia, pra liberarem um laguinho pra
nós mortais patinarmos, exigem apenas uns 8 a 10cm de gelo. Pra chegar a 15cm,
precisa não apenas fazer um frio enorme, como fez, mas precisa que dure um bom
tempo, o que não rolou.
Andando sobre as águas.
Esperavam
que pudesse ocorrer a corrida no dia 11/02, mas 3 dias antes a organização veio
a público dizer que alguns pontos do circuito, na parte sul, não haviam
atingido a grossura de gelo ideal. Houve quem sugerisse que o gelo fosse
reforçado artificialmente – seja lá como fazem isso – especialmente sob pontes,
onde ele é mais frágil. Também sugeriram desvios construídos por terra,
desviando das zonas de gelo mais frágil. Mas, os organizadores nem quiseram
saber, consideraram uma heresia. O jeito é esperar por 2013, pois dizem que o
país inteiro pára pra ir lá assistir.
Treinando pra 2013!
Ice Age 3 –
The Meltdown
Pena que
pouco durou. Uma semana depois de voltarmos a Eindhoven e com apenas um final de
semana pra nos divertirmos, a neve e o gelo foram embora. A temperatura ficou
positiva, deixando as ruas perigosas, pois chove, mas com a coisa perto do 0oC,
a água congela-se formando uma camada fina de gelo sobre ruas e calçadas. Também
já não temos esperança de voltar a patinar outdoor antes do próximo inverno,
pois as temperaturas já estão novamente atingindo os dois dígitos.
Foi um
inverno engraçado, pois começou muito quente, fez 4 semanas de um frio absurdo –
sendo que 2 delas estivemos no Brasil – e voltou a ficar “quente”. Acabamos
aproveitando pouco as coisas boas do inverno; não só não deu tempo de começar a
chamar neve de merda branca, como ficou gostinho de “quero mais”, como turista
que volta de Bariloche.
Agora, é
esperar pela Primavera e pelas tulipas...