22 fevereiro 2012

ICE AGE


Voltamos da HIBERNAÇÃO!!! Quem não esteve isolado em uma caverna no último mês viu que a Europa passou por uma mega onda de frio. Também, pudera, antes dela estava fazendo um “calor” de 5, 7, 10 graus que não é nem um pouco normal. Foi apenas o segundo Natal da história que Eindhoven registrou temperatura de dois dígitos. White Christmas, só nas vitrines das lojas.
 Demorou pra mudar a paisagem.

Agora que as coisas estão voltando ao normal, como foi nossa experiência naquilo que a maioria dos brazucas teme na Europa, o Inverno?


Ice Age 1 – The Big Freeze

A verdade é que perdemos parte do grande frio que tomou conta do continente. Embarcamos pro Brasil exatamente um dia antes da chegada da massa polar e escapamos por pouco de ficar preso nos trens ou aeroportos holandeses. Mas, voltamos a tempo de encarar a friaca e, olha só, já tínhamos marcado, sem saber, 5 dias em uma estação de esqui na França. Se está no Inverno, abraça o boneco de neve...
Modelito preparado pro Esqui...

Mesmo a Holanda sendo desprovida de montanhas, praticamos esqui indoor aqui em Eindhoven pra treinar. É bem louco: uma esteira de uns 5m X 5m de tamanho, feita com um carpete bem alto e molhado pra simular a neve. Liga a esteira e você fica lá, fingindo que está nos Alpes. Pra aprender e treinar, é excelente.

Mas, era hora da verdade e fomos levar nossas recém compradas botas de esqui pra conhecer a neve. A localidade escolhida foi Geràrdmer, uma cidadezinha francesa, na beira de um lago, na cadeia de montanha dos Vosges. Nem é tão alta, a cidade está a 666m de altitude, a estação de esqui a 850m e o topo da montanha, a 1110m. Saímos pro sul vendo uma estrada muito diferente da que nos acostumamos, com neve pra todos os lados, tomando os pastos e plantações. Depois de um Natal decepcionante, a certeza que o Inverno chegara.
Subindo...

 Preparando pra descer...

Em Geràrdmer desembarcamos às 21h, com os termômetros marcando -11oC. Nos dias seguintes, pegamos, na rua ou na estação temperaturas de -15oC e talvez menos. À noite, baixava pra até -23oC. Pior era ver a “sensação térmica”, que batia em -27oC, por causa do vento. Aí, a primeira questão: não é tudo igual, pegar -15oC ou 0oC? Não é frio igual? Então... nem ferrando! A diferença é gigante.
 Protegidos contra o frio

Primeiro que aquele esqueminha de 3 camadas que explicamos no post da Aurora Boreal, não rola. Precisa de mais camadas, de uma sobrepele mais quentinha e de um casacão porreta. Mesmo na perna, chegamos a encarar 3 camadas. O que aumenta também é a sensação de “queimar” a pele com o vento, pior ainda esquiando, com o vento batendo. Nesse caso, não dava pra deixar um cantinho de pele exposto. O tempo que você consegue ficar na rua cai bastante e entrar numa loja ou bar a cada 20 ou 30 minutos, no máximo, é essencial. O calor do corpo parece que vai embora instantaneamente.
Recuperando o calor perdido...

A cidade é um pico turístico de inverno e verão, então tem muito hotel e restaurantes a preços bem bacanas. Mas, é curioso que o forte dos turistas é francês mesmo, no máximo, alemão. Não vimos quase nada fora disso por lá. Inclusive, no final de semana a cidade dobrou de tamanho; é um destino popular para quem não está em férias levar a molecada pra brincar na neve. Sim, é uma estação bastante família, inclusive ver crianças de colo e mesmo pequenas forradas de casacos se divertindo é estranho pra quem cresceu num país tropical onde os pais tem receio de levar filhos pro frio. Aqui, a molecada enfrenta o frio como qualquer um, se não fosse assim também, ficariam em casa.

Outra coisa boa que vem com o frio são as paisagens: lagos congelados, montanhas nevadas,... segue uma amostra do que vimos por lá.

 Por do Sol na Estação de esqui.

 O lago de Geràrdmer

  Mais de perto, congelado...

Ainda bem que avisaram....

  Juro que não fui eu que tentou ver a força do gelo.

 Na beira do lago

  Arte no córrego congelado

  Tunelzinho na Estrada.

 Quase feio....



                                                                                                                                                                                                                                                        
Ice Age 2 – Back to Home

Chegamos em casa a tempo de curtir uns diazinho de frio e ver Eindhoven nevada. Nenhuma grande neve, até porque, quando a temperatura cai demais fica mais difícil nevar, pois a umidade do ar também despenca. Como uma boa cidade holandesa, Eindhoven tem muitos lagos e canais e tudo congelou com esse frio polar que fez. E os parques ficaram lotados, com famílias e mais famílias se esbaldando no gelo.
Guardaram espaço pros patos.

Tivemos que comprar uns patins, mas quase não conseguimos, pois parecia que furacões haviam passado pelas lojas, com a holandesada arrebatando tudo que tivesse uma lâmina na sola. Pior ainda que calçamos números comuns: 37 e 44 (equivalente ao 35 e 42 brasileiros) e nossos tamanhos foram os primeiros a sumir. Mas, missão cumprida e partimos pros lagos. Primeira coisa estranha: fomos ao HTC, onde fica a Philips, e tem um lagão enorme; chegando lá não sabíamos por onde entrar pois tem grade. Mas, bem, a grade pára na beira do lago, então simplesmente andamos por sobre as águas e varamos a segurança. Tá, pode parecer bobo, mas é bizarro pra quem vem dos trópicos.
Geral do lago gelado

Espere também encontrar tudo quanto é coisa sobre o gelo, desde os tradicionais trenós onde os pais puxam seus pimpolhos, a cadeiras que crianças se divertem empurrando umas às outras e até carrinhos de bebês, onde mães patinam empurrando futuros esquimós.

A neve que atrapalha um pouco, pois ela se acumula sobre o gelo e não é muito deslizável. Pra isso, o pessoal leva aquelas pás de neves e ficam de lá pra cá, limpando o gelo. Além das trilhas, abrem um espaços maiores pra brincarem de hóquei.
Meeeedo... hehehe...

Uma expectativa que o país todo viveu nesses dias foi a realização da Elfstedentocht, a Corrida das Onze Cidades. Acontece na Frísia, nortão da Holanda quando lagos e canais congelam formando um circuito natural de 200km entre essas cidades. É bem difícil de ocorrer, tanto que a última versão da corrida foi em 1997 e apenas 15 ocorreram desde que começou em 1909. O maior período sem a corrida foi de 22 anos, entre 1963 e 1985. Além de congelar tudo, os organizadores exigem que haja uma camada de 15cm de gelo, pra agüentar os estimados 16.000 patinadores. Pra dar uma idéia, pra liberarem um laguinho pra nós mortais patinarmos, exigem apenas uns 8 a 10cm de gelo. Pra chegar a 15cm, precisa não apenas fazer um frio enorme, como fez, mas precisa que dure um bom tempo, o que não rolou.
Andando sobre as águas.

Esperavam que pudesse ocorrer a corrida no dia 11/02, mas 3 dias antes a organização veio a público dizer que alguns pontos do circuito, na parte sul, não haviam atingido a grossura de gelo ideal. Houve quem sugerisse que o gelo fosse reforçado artificialmente – seja lá como fazem isso – especialmente sob pontes, onde ele é mais frágil. Também sugeriram desvios construídos por terra, desviando das zonas de gelo mais frágil. Mas, os organizadores nem quiseram saber, consideraram uma heresia. O jeito é esperar por 2013, pois dizem que o país inteiro pára pra ir lá assistir.
Treinando pra 2013!


Ice Age 3 – The Meltdown

Pena que pouco durou. Uma semana depois de voltarmos a Eindhoven e com apenas um final de semana pra nos divertirmos, a neve e o gelo foram embora. A temperatura ficou positiva, deixando as ruas perigosas, pois chove, mas com a coisa perto do 0oC, a água congela-se formando uma camada fina de gelo sobre ruas e calçadas. Também já não temos esperança de voltar a patinar outdoor antes do próximo inverno, pois as temperaturas já estão novamente atingindo os dois dígitos.
 Só no inverno que vem...

Foi um inverno engraçado, pois começou muito quente, fez 4 semanas de um frio absurdo – sendo que 2 delas estivemos no Brasil –  e voltou a ficar “quente”. Acabamos aproveitando pouco as coisas boas do inverno; não só não deu tempo de começar a chamar neve de merda branca, como ficou gostinho de “quero mais”, como turista que volta de Bariloche.

Agora, é esperar pela Primavera e pelas tulipas...