Durante muitos anos o trem foi quase monopólio nas viagens que se
faziam dentro do continente. Quem vinha do Brasil pra cá usava a estrada de
ferro ou, eventualmente, alugava um carro pra se deslocar de cidade em cidade.
De uns anos pra cá, tem ficado cada vez mais popular pegar voos de companhias
chamadas Low Fare ou Low Cost, que oferecem passagens, muitas vezes, mais
baratas que as de trem e cobrindo distâncias maiores.
Isso muda muito o jeito de se planejar uma viagem pela Europa, pois já
não é necessário seguir uma linearidade no roteiro, nem aproveitar trechos,
encaixando cidades que talvez não se visitasse. Voando, é possível alterar
totalmente o foco da viagem, pulando das praias da Espanha para o frio da
Polônia, facinho, facinho. Some a isso o encarecimento que o transporte
ferroviário teve nos últimos anos e vemos uma explosão de ofertas de voos para
as mais diversas cidades da Europa.
Mas, as Low Fare estão longe de ser a oitava maravilha para o viajante.
Se não tomar cuidado, muita dor de cabeça e custos extras podem ferrar com sua
viagem. Só que estamos aqui pra ajuda-lo a lidar com essa bagaça.
O Barato
Pode Sair Caro
O preço da tarifa chama a atenção, mas se você começar a somar os
custos acessórios pode chegar a pagar mais que se fosse, digamos, de trem.
Mesmo comparando voos com companhias aéreas comuns, a coisa pode encarecer,
veja o porquê:
1 - Bagagem:
em Low Fare só é permitido um volume de bagagem de mão, com 10kg no máximo.
Bagagem despachada pode custar de € 10 a até € 40, por volume, dependendo do
peso, da companhia e do trecho que se está voando. E eles são chatos com isso –
afinal, é onde ganham dinheiro... – especialmente com permitir apenas 1 volume.
Vale o alerta, em particular, para as mulheres que costumam viajar com sua bolsa
a tiracolo e mais uma mala: não pode, um volume é um volume.
Peso, é mais
difícil conferirem, mas acontece. Tamanho, sempre têm daqueles gabaritos de
metal com o tamanho permitido e é bem comum pedirem pra verificar. Já vimos, em
Londres, sujeito socando a mala até caber no gabarito e depois quase não
conseguir tirar de lá.
2 - Distância
do Aeroporto: muitas Low Fares usam aeroportos secundários, inclusive alguns
que eram bases aéreas desativadas, que construíram um terminal. Ou seja, muitas
vezes esses aeroportos são distantes da cidade de destino e paga-se um bom
dinheiro pra se chegar ao centro. Sempre há shuttle fazendo o serviço, mas some
aí uns € 15 ou € 25, dependendo do caso. Pesquise antes.
Por exemplo,
o aeroporto de Weeze, que fica na Alemanha quase divisa com a Holanda, é
vendido como Düsseldorf, mas fica a quase 80km do seu centro; sendo que
Düsseldorf tem seu aeroporto. É como viajar pra São Paulo achando que vai
pousar em Congonhas e chegar em Viracopos.
Na lista
abaixo, alguns exemplos desses truques, com a cidade-base, o nome do aeroporto
vendido e a distância efetiva entre eles.
- Düsseldorf (Weeze): 78km
- Frankfurt (Hahn): 124km, é
quase em Luxemburgo!
- Barcelona (Girona): 95km
- Barcelona (Tarragona/Reus): 105km
- Bruxelas (Charleroi): 60km
- Paris (Beauvais): 90km
- Paris (Vatry/Disneyland): 162km (Mesmo da EuroDisney, são 124km!)
- Estocolmo (Skavsta): 106km
- Estocolmo (Vasteras): 104km
- Londres (Stansted): 66km
- Milão (Bérgamo): 55km
- Munique (Memmingen): 117km
- Oslo (Moss/Rygge): 70km
Todas essas
cidades possuem seus aeroportos principais que são mais próximos do centro.
Algumas Low Fare voam também para esses aeroportos principais, então, fique
atento.
3 - Tudo paga: qualquer coisinha a mais, paga taxa. Fazer o pagamento no
cartão de crédito, paga. Check in no aeroporto, paga (tem que fazer pela
internet e levar o cartão de embarque impresso). Reservar assento, paga.
Prioridade no embarque, paga. Lanche no avião, paga. Água no avião, paga. Na
RyanAir chegam até a vender raspadinhas e calendários das aeromoças de
lingerie, pra reforçar a receita.
Como Achar Bons Preços
Boa parte dos voos Low Fare é consumida pelo pessoal daqui, de forma que
quanto mais você fugir de horários óbvios, melhor. Tipo, sair numa sexta-feira
ou domingo à noite, esquece. Alta temporada (junho a agosto), também complica.
Procura naqueles horários, tipo quarta-feira, no meio da tarde ou no começo da
manhã, que a probabilidade de bons preços melhora.
Aqui, elas funcionam como qualquer cia aérea: possuem 3 níveis de preços.
X passagens baratas; acabou, Y passagens a preços médios; acabou, Z passagens
mais caras. Portanto, quanto mais antecedência, melhor. Fora isso, pode ficar
dando uma olhada nos sites das empresas, pra ver alguma oferta de última hora,
mas aí, vai ter que ir pra onde tem, não pra onde você quer.
Com a devida antecedência e sorte, porém, dá pra achar voos por menos de
€ 30, cada perna, sem maiores transtornos.
Praticidade
Já falamos dos aeroportos mais distantes, então, prepare-se para somar uma
hora ou mais na chegada ou na saída, caso seu aeroporto seja daqueles mais
distantes. Nesse ponto, o trem leva uma vantagem pois, apesar da viagem em si
ser mais longa, além das estações ferroviárias serem mais centrais, dá pra
chegar 5 minutos antes do trem sair e embarcar. Aeroporto, já viu: pelo menos
1:30h ou 2:00h de antecedência.
Agora, as Low Fare ganham em termos de praticidade das Aéreas normais na
compra de passagens descasadas. Nas Low Fare compra-se cada perna independente
das demais. Pode ir por uma, voltar por outra ou seguir viagem pra outro lugar,
sem problemas. Não tem nem desconto se comprar ida e volta casada, portanto,
compre as pernas sempre separadamente.
Quem são?
Existem várias companhias Low Fare operando no continente; algumas
independentes, outras são subsidiárias de Cias normais. Uma desvantagem das
independentes é a falta de garantia e suporte ao cliente. Normalmente, o
serviço é uma porcaria e o passageiro que se dane. Certa vez a Ryan Air nos
largou em Hahn a 300km de onde deveríamos descer (Weeze) à 1:00h da madruga,
pois Weeze havia fechado. Não nos deram transporte, comida, hospedagem, porra
nenhuma e só saímos de lá às 7:30h, depois de dormir, no chão, na frente do
balcão de Check In. Pergunta se alguém deu alguma satisfação? Numa subsidiária,
pelo menos, tem pra quem reclamar.
Vamos a algumas dessas companhias. Se estiver um (Ind) após o nome,
trata-se de uma Cia independente. Caso seja uma subsidiária, tem o nome da
companhia mãe entre parêntesis.
- Air Berlin (Ind): curioso que esta trabalha no sistema “normal” ou no
Low Fare, dependendo da passagem que você comprar.
- Air Europa (Ind)
- Air One (Alitalia)
- ArkeFly / TUIFly (Ind): é uma operadora de turismo, normalmente os voos
são casados com seus pacotes
- Brussels Airlines
(Ind)
- EasyJet (Ind)
- Flybe (Ind)
- Germanwings
(Lufthansa)
- Hop! (Air France)
- Jet2 (Ind)
- Ryan Air (Ind): a
maior e benchmarking na area. Lixo de serviço, mas é barata.
- Smart Wings (Ind)
- Transavia (KLM)
- Vueling (Iberia)
- Wizz Air (Ind): opera basicamente Leste Europeu
Dicas Finais
Resumindo, o que precisa saber pra voar Low Fare:
- Não saia comprando Low Fare direto. Faça sempre uma comparação Aérea
normal X Aérea Low Fare X Trem. E pense não só no preço, mas em praticidade,
tempo de deslocamento e conforto.
-Sim, conforto. Algumas Low Fare apertam tudo e a distância entre bancos
é mínima. Em alguns casos, como na Ryan Air, o assento nem reclina por causa
disso. Num voo de 1h, beleza, mas pegamos um de 4h pra Marrakech que foi um
suplício.
- Via de regra, pegar um voo – seja normal ou Low Fare – vale a pena para
distâncias a partir de 400 ou 500km, em termos de tempo de viagem e preço.
Menos que isso, o terrestre tende a ser mais vantajoso.
- Uma exceção costuma ser a Inglaterra, pois várias empresas Low Fare têm hub lá. Somado a isso, o trem (Eurostar) é carinho e o Ferry, demorado.
- Pense bem na sua bagagem antes de vir pra cá. Voos do Brasil têm uma
franquia de 2 malas de 32kg e carregar isso em Low Fare é inviável. Pelos valores
adicionais de bagagem, o ideal é, no máximo, uma mala de 20kg e uma de mão, até
10kg.
É isso: planeje bem e Boa Viagem!
Tot ziens!