Essa é uma das
perguntas que mais nos fizemos antes de vir pra cá e que mais nos fazem, agora
que estamos aqui. É muito caro morar aí? Mais caro que no Brasil?
Bem, não é uma
resposta simples, pois essa questão de custo de vida varia muito de família pra
família, o que é prioridade, o que se está acostumado a fazer e onde se gasta a
grana. Há coisas mais baratas, há coisas mais caras e a soma vai depender de como
cada um monta sua planilha de custos.
Mas, para ajudar,
vamos falar um pouco de cada coisa.
MITO – pra fazer a
conta do custo de vida, tem que pegar mais ou menos 1 euro pra 1 real, sem
fazer o câmbio, apenas pelo poder de compra
Mito total. Se quiser comparar,
tem que fazer o câmbio pra ver como é em cada país. Não sei se essa afirmação
já foi verdade, mas o custo de vida no Brasil subiu muito e é perfeitamente
comparável ao daqui em termos de poder compra.
MORADIA
Apesar da alta grande
que os imóveis tiveram no Brasil, nos últimos anos, o preço dos imóveis na
Holanda são maiores. Até porque, estamos falando de um país minúsculo que você
cruza em menos tempo do que dará uma volta no RodoAnel, se ficar pronto um dia.
Com menos terra, ela é mais cara, óbvio. Fora isso, muitos imóveis são antigos,
muitas zonas tombadas, de forma que o que tem é o que está lá.
Mas, o custo geral de
moradia aqui pode ser mais baixo ou similar. Como assim? Bom, temos que colocar
três coisas em perspectiva:
- O custo do aluguel é
proporcionalmente mais barato. Como muitos imóveis são antigos, não há a
necessidade de retorno rápido do investimento. Assim, boa parte da população
vive de aluguel.
- A coisa é mais cara
em regiões e cidades mais nobres, comparadas pau a pau. O problema é que morar
em regiões menos privilegiadas de cidades como Rio e São Paulo traz uma série
de custos extras, desgastes e desvantagens. Aqui, morar “um pouco pior” não é
problema quase nenhum, dada a segurança e facilidade de locomoção.
- No Brasil há custos
acessórios de IPTU e, principalmente, condomínio que encarecem demais a conta
Moradia. Aqui, nem sei se há imposto similar (só se estiver somado ao aluguel,
já) e o que se paga de condomínio, mesmo em prédios, é ridiculamente menor. No
nosso prédio, que é grande, tem apenas um zelador em meio período pra cuidar de
tudo, incluindo limpeza, e nada de piscina, academia, quadra, playground e
todas essas coisas subutilizadas no Brasil. A parte de lazer é pública. Isso
que a maioria mora em casa e sem necessidade de pagar vigilante noturno.
Somando tudo, ainda
mais considerando morar de aluguel, a conta é similar. Morando no centrão de
uma cidade média, pagamos o mesmo que pagaríamos no Brasil por um apartamento
do mesmo padrão em SP, num bairro secundário (nada de Vila Nova, Itaim ou
Jardins, mas coisa boa, vai...)
MERCADO
Essa é uma conta que
favorece mais o Brasil. Produtos in
natura são razoavelmente mais caros aqui, com menor variedade e
diversidade. Estou falando de frutas, legumes, carnes, essas coisas. Não são
tantas frutas e coisas que são baratinhas no Brasil, como limão e banana, aqui
são bem caras. Mamão, nem tem.
Produtos
industrializados, em geral, batem pau a pau no preço. O que faz muita diferença
pros lados de cá são os importados. Coisas como vinho, azeite e tudo que
costuma vir de fora pro Brasil, aqui é ridiculamente mais barato. Agora, também
não são tantos itens assim na cesta.
PRODUTOS
Difícil englobar tanta
coisa num único item, mas diria que aqui é mais vantagem, especialmente se
compararmos o que é consumido por pessoas de classe A e B, onde já nos acostumamos
ser extorquidos no Brasil.
Eletrônico é ridículo,
não dá pra começar a comparar. Aqui pode não ser Miami, mas pagamos bem metade
do preço das coisas no Brasil. Roupas, se falarmos nas coisas de marca, a
diferença é gritante, pois o brasileiro adora pagar caro por coisa chique. Sem
ser de marca dá pra comprar coisa de muito boa qualidade e bem mais variedade
aqui, talvez mais caras, mas que acabam compensando. Só sapato que o Brasil
ganha fácil.
Mas, tem uma coisa
importante: liquidação, aqui, é liquidação de verdade. Outlet, aqui, é outlet
de verdade. Nada daquele migué de aumentar o preço em 20% e dar desconto de 25%
que vemos nos shoppings brasileiros. Quando se fala em liquidar aqui
(uitverkoop, alles moet weg, e op=op são as palavras mágicas), é coisa de 50%,
60%, 70% de verdade, tanto que costumam deixar o preço original na mercadoria e
apenas a etiqueta do % de desconto por cima. Isso sem falar nas grandes queimas
de fim de estação.
Lembro da primeira vez
que fomos a Roermond, um mega outlet, uns 45 minutos daqui, na fronteira com a
Alemanha. Saí de lá com uma porrada de sacolas e a Carol estranhou: “nossa,
nunca vi você comprar tanta coisa”. O problema é que no Brasil eu não comprava
nada, pois me recusava pagar R$ 150 numa camisa social, por exemplo. Naquele
dia, comprei 4 – de excelente qualidade –
por menos que isso.
Simples, se tiver
paciência e um pouco de conhecimento, a possibilidade de se economizar aqui é
bem maior.
SERVIÇOS
Qualquer serviço que
depende de mão de obra pouco especializada, pode contar que aqui é bem mais
caro. Desde manicure a montagem de móveis, estamos falando muitas vezes de
dobro ou triplo. Ou mais.
Agora, existe a
adaptação. No Brasil tínhamos a Santa Diana que trabalhava duas vezes por
semana em casa, fazendo tudo: lavar, passar, arrumar, cozinhar,... aqui, temos
a Vikki. Se fôssemos pagar pra ela trabalhar dois dias inteiros, iríamos à
falência. Aqui, num apartamento maior que tínhamos no Brasil, temos apenas uma
pessoa trabalhando 4 horas por semana, por um pouco menos na soma que pagávamos
por dois dias no Brasil. O que ela faz em 4 horas? Passa roupa, limpa banheiro,
troca a roupa de cama e passa um pano na casa. Só, o resto é com a gente.
Adaptação.
A Carol fazia as unhas
toda semana no Brasil. Aqui, a coisa é 4 vezes mais cara e o serviço bem mais
meia boca. Resultado: vai à manicure aqui a cada 3 meses, o resto faz ela
própria em casa. Adaptação.
Essas coisas de casa,
aqui é tudo Faça Você Mesmo. Instalar o carpete de madeira, pintar a parede,
montar os móveis da Ikea, fazer o carreto de um sofá, essas coisas que no
Brasil se contrata qualquer Zé por 50 ou 100 reais pra fazer, aqui vai o
salário do mês. Então, todo mundo se vira nos 30. Adaptação.
Reflexo disso é que
muitos serviços que estamos acostumados no Brasil, aqui, nem existem. Por
exemplo: lavagem de carro. Aquela lavagem bonitinha, com balde e esponja, com o
carinha passando silicone no painel e pneu pretinho, esquece, veio! Aqui é
lavagem na máquina (tá certo que umas puuuuta máquinas show de bola) e tchau.
Tem uns boxes com uns mega aspiradores que , se quiser, você vai lá e aspira a
porcaria que você mesmo fez.
Frentista? Manobrista?
Vai sonhando. Nem se quiser pagar, você acha.
Um tipo de serviço que
é curioso é o restaurante. Aqui não temos opções pra comer tão bem e barato
como os Quilos, PFs e Padocas no Brasil; afinal a mão de obra é cara. Comida de
dia-a-dia fora de casa é mais cara. Agora, restaurante bom, aqui é mais barato.
Não tem aqueles chutes no balde que grandes restaurantes dão nas capitais
brasileiras. Pra comparar restaurantes chiques, pra comer camarão, tomar vinho
italiano e o escambau, aqui paga-se menos.
Mas, um serviço que
aqui vale muito a pena é viagem. Tá, temos o fator “curtas distâncias” que
facilita muito, pois em 4h de carro, por exemplo, chegamos a vários países. A
holandesada não tem a mesma escala de quem vem de um país grande. Eles não
concebem a gente dirigir, por exemplo, 6h até Berlim, que no Brasil é um mero São
Paulo-Rio. Fora os pacotes. Saindo da alta temporada, o que se consegue de
preços de passagens aéreas e hotéis... várias pechinchas. Dá pra passar uma
semana num belo resort na Espanha ou no Egito por 300 ou 400 euros. All
Inclusive. Temos as companhias aéreas low fare, mas isso será tema de outro
post.
OS NÃO-CUSTOS
Aqui é que a diferença
pende demais para o lado europeu: custos que não temos aqui. O mais óbvio é o
carro. Para um casal médio, ter dois carros aqui é um exagero; um está mais que
de bom tamanho. Com as pequenas distâncias, sem trânsito caótico e um
transporte público eficiente, um carro pra dois dá, sem sacrifício.
Pessoas sozinhas, na
maioria das vezes, nem possuem carro por aqui. Quando precisam, os aluguéis são
muito mais em conta que no Brasil (pagamos por um Mini conversível na Riviera
Francesa menos que por um Sandero no Rio de Janeiro), sem contar os sistemas de
Car Sharing que há em muitas cidades, onde você pode usar carros por curtos
períodos ao longo do mês, pagando uma mensalidade e a quilometragem, apenas.
No caso da Holanda em
geral – e de muitas cidades pelo continente – a bicicleta ou as lambretas
também quebram um enorme galho. Além de ter ciclovia pra todos os lados, a
geografia favorece demais em termos de distância e relevo.
Segurança é outro item
que nos preocupamos bem menos. Alguns gastos que temos no Brasil com segurança,
são desnecessários aqui: vigia noturno, sistema de vigilância/alarme, valet,
porteiros, além de um bom percentual do seguro do carro. Pega o quanto uma
pessoa normal gasta por mês só com valet e estacionamento, numa cidade como São
Paulo, pra não roubarem seu carro: uma pequena fortuna.
IMPOSTOS
Por fim, o tema mais
sensível. Aqui paga-se uma média de Imposto de Renda até um pouco maior que o
Brasil, mas não precisa pagar escolas, segurança e tudo mais que o poder público
deveria prover. Mesmo saúde, o plano que existe é um misto público-privado,
onde cada um paga uma mensalidade de acordo com sua renda. Nós pagamos cerca de
€ 100, por exemplo, que no Brasil não paga o plano de saúde mais vagabundo.
Também não temos o nível de atendimento de um Einstein ou de um Sírio. Mas,
muito longe de um SUS.
Impostos sobre carros
também são altos, mas os calçamentos de ruas e estradas são impecáveis. E sem
pedágios.
Também não há os
impostos obscenos sobre serviços públicos, como telefonia e energia, que
barateia toda cadeia produtiva. Um plano de celular pra 250 minutos/SMS mais
internet ilimitada em todo país e um belo smartphone grátis (2 anos de
contrato), sai por meros € 35/mês.
Bom, sem alongar
demais, dá pra ter uma ideia, se quiserem vir pra cá, quanto precisa pra viver
bem.
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