26 novembro 2012

Roteiro Trapista (5, 6 e 7 / 7)

Bom, se você é um atento leitor, lembra que colocamos pra nós mesmos o objetivo de fazer todas as cervejarias trapistas em 1 ano. Fizemos em pouco mais de um ano, mas contou pro bônus. Completamos o périplo em julho passado, mas com o Blog abandonado, o registro só vem agora. Pegamos um fim de semana e demos, literalmente, uma volta pela Bélgica para fechar os 3 mosteiros restantes e, de quebra, ainda fazer uma revisita a Orval.

Mas, vamos deixar os updates de abadias passadas para o wrap up que virá em seguida, afinal, temos novos desafios adiante. Por ora, vamos terminar o que começamos e reportar o final do Tour Trapista.


5- Westvleteren

Por muitos, considerada o Santo Graal das cervejas trapistas. A mais exclusiva, mais difícil de achar e a mais reverenciada, não apenas entre as trapistas, mas não seria exagero dizer que entre todas as cervejas belgas.

A Entrada de Westvleteren

E tudo isso, tem um motivo: ao contrário de suas irmãs, Westvleteren escolheu permanecer uma pequena cervejaria trapista, sem a intenção de ganhar mercados no mundo todo. Os monges produzem apenas a quantidade que julgam necessária para manter seu mosteiro e nem uma gota a mais.

Mas, não é só isso: o único lugar que as Westvleteren Blonde, 8 e 12 são vendidas oficialmente é na própria abadia. E não é fácil, mesmo assim. Tem que ligar lá, nos horários que falam no site, normalmente por uma hora na manhã de segunda feira e outra na manhã de terça. O próprio site fala que é difícil conseguir, de forma que gastei meu dedo e nada.

Westvleteren 12 e Blonde prontas pro abate

Se conseguir ligar, você faz a reserva, mas não da cerveja que você quer, tem que ser do que tem e dê-se por satisfeito. Você passa a placa do seu carro e marca o dia para buscar as cervejas, normalmente no sábado seguinte. Eles controlam a venda pela placa do carro e você pode levar apenas dois engradados por vez e o mesmo carro só pode voltar lá após 2 meses.  

Além disso, você se compromete com os monges que a cerveja é para consumo próprio e que não será revendida. Pra sua sorte, alguns lojistas demoníacos e inescrupulosos fazem toda essa via crucis por você e vendem essas preciosidades em lojas de cervejas pela Bélgica e Holanda. Mas, ir pro inferno tem seu preço: uma garrafinha comprada por € 1,20 in loco passa a valer quase 10 vezes mais nesses antros de pecadores.

Outra opção, como fizemos, é degusta-la no café In De Vrede, que significa literalmente “Na Paz” em holandês, logo na frente da abadia. Com uma bela vista dos campos de cevada que um dia estarão dentro do mesmo copo que você segura, bons pratos, uns bons sanduíches e Westvleterens “van het tap” que podem te render um ótimo par de horas.

Vista do Café: soon... soon...

Por ser vendida oficialmente apenas na abadia e no Na Paz, outra peculiaridade da Westvleteren é que ela não possui rótulo. Todas as informações legais estão impressas na tampinha e, dada a falta de espaço, ela não consegue ostentar o selo de Authentic Trappist Product.

Na saída, uma lojinha com bons produtos trapistas, de patês a queijos (nunca deixe de levar um queijo numa abadia trapista. NUNCA!). Sempre vendem uma cerveja lá e o kit varia de tempos em tempos. Eu levei dois kits com um copo e 4 cervejas (2 Blonde, 1 de cada das outras) cada, por um preço bem mais salgado que no roteiro normal, mas bem mais em conta que na De Bier Temple mais perto de sua casa.

Sim, eu tenho! hehehe...

Westvleteren é um pouco fora de mão dos roteiros turísticos tradicionais, mas uma ótima sugestão é fazer o que fizemos: combinar a abadia com um passeio a Ieper (ou Yprés, em francês), a apenas 15km de distância, palco de algumas das mais sangrentas e heroicas batalhas da 1ª Guerra Mundial. Além de uma cidade muito bacaninha, há diversos guias que te levam por trincheiras, locais de batalhas e memoriais. Um passeio fantástico, mas falaremos dele num outro dia.


6- Chimay

É a visita mais completa que você pode fazer nesse roteiro. Começa pela agradável cidade de Chimay, que dá nome às cervejas. De todas desse tour trapista, a que mais vale perder umas horinhas pra visitar seu centrinho. Pena que não conseguimos visitar o castelo de Chimay, que estava fechado.

Numas das praças da cidade, um antigo tanque de fermentação de Chimay

Com relação à abadia, em si, que fica bem fora da cidade, quase na fronteira com a França (tanto que a melhor hospedagem que achamos foi na cidade francesa de Mauberges), são duas coisas diferentes.

Como era, anos e anos atrás...

Primeiro, a parte, digamos, monástica, onde fica a abadia, a igreja, jardins lindíssimos e que podem ser visitados. Inclusive, das 11h às 12h dá pra presenciar uma linda missa cantada pelos monges beneditinos. Chegamos nos últimos 15 minutos, mas já valeu a pena.

Na cidade, o pessoal sabe o que atrai a gente.

Voltando pela estradinha, uns 500m da abadia, fica o Espace Chimay, o centro de visitação da cerveja. Chegando, você dá de frente com a lojinha, que vende as cervejas, os – já sabe... – queijos e toda sorte de acessórios; de copos ao meu atual chaveiro-abridor. Pra direita, uma rápida exposição, toda modernosa, multimídia, com vídeos, objetos e demais coisas variando entre fabricação de cerveja e a história de Chimay. Uma visita de meia horinha, bem bacana e cujo ingresso ainda inclui uma cervejinha.

Um mundo de Chimay!

Pra esquerda, um agradabilíssimo restaurante, o Auberge de Ponteaupré, tanto na parte interna quanto na externa, que é ideal para um dia ensolarado. Comida excelente e todas as Chimay para seu deleite, incluindo um recipiente especial para degustar pequenas doses de todas as Chimay.

O Menu Degustação.

Dentre os tipos, temos as famosas bleu, blanc et rouge e mais uma, a Dorée, uma cerveja ale bem leve (4,8%) que só é servida no restaurante, não é vendida fora. Reza a lenda que essa é a cerveja de dia a dia dos monges de Chimay.

Conhecida com Cinq Cents, a Blanc (chamada, em inglês, pelo imaginativo nome de White) nada tem com a Wit Bier / Biére Blanche belga. Nada mais é que uma Tripel, como muitas de suas irmãs. Ainda na tradição trapista de ter também as Dubbel, a Chimay apresenta a vermelha (rouge) como Dubbel tradicional  e a Bleue (precisa dizer que é a azul?) como a Dubbel “reserva”, refermentada na garrafa e com vários anos de tempo de prateleira.

E aí? Vida chata?

Uma das visitas mais completas e agradáveis, onde não teve aquela sensação de estar faltando algo.


7- Rochefort

Gostaria de ter mais o que falar sobre Rochefort, mas não vai rolar. Já sabíamos que lá não existe nada pra ver, a abadia é fechada, não tem bar, loja nem nada que possa interessar a um turista cervejeiro. Pra não falar que não tem nada, dá pra entrar na igreja, mas garanto que não é nada que valha se abalar a ir a Rochefort.

Heading to Rochefort in style...

Fomos apenas para falar que estivemos lá e porque não era muito fora da rota entre Chimay e Orval. Mas, para demais visitantes não sou eu que vou recomendar aqui.

Rochefort vista de fora

Degustamos belas Rochefort 6 e 10, essa tida por alguns como a melhor cerveja fabricada neste planeta, num agradável bar perto do centro. Também compramos um kit de copo e cerveja no Tourist Information da cidade, mas apenas porque nosso pequeno objetivo deste tour era ter os 7 copos das trapistas comprados no lugar. Pode parecer bobagem, mas deixa nóis, pô!

Uma ó-te-ma Rochefort 6 servida à perfeição

Aguardem o capítulo final dessa saga! Qual o melhor roteiro? Updates das outras? Qual score final de cada uma? Como assim, 10 trapistas?


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